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Sunday 8 March 2009

Or la goyim - tikun adam, tikun olam - Sichel

Or la goyim - tikun adam, tikun olam

O conceito de sociedade alternativa utilizado hoje em Israel difere (em muito) daquilo que foi cunhado "alternativo" durante os anos 60 e 70 ao redor do mundo. Os movimentos desta época eram em sua maioria isolacionistas, buscando uma satisfação pessoal na medida em que se excluíam quase por completo da realidade social de onde moravam. Já em outros casos, se isolavam buscando reformar a sociedade pelo lado de fora, destruindo de maneira violenta suas instituições sócio-econômicas e instaurando novas, distintas, formas de poder.
Atualmente fala-se em uma sociedade alternativa que atue e exista no núcleo dos problemas que quer reformar. As sociedades alternativas de Israel são grupos de pessoas altamente ativas, que mudam seu modo de vida em busca de objetivos sociais concretos. Objetivos que são os mais distintos possíveis. Os principais grupos que se unem para constituir algo "alternativo" trabalham por causas ecológicas e sociais.
Em Israel, o sentimento de solidariedade segue forte e o país volta a transformar-se em uma luz para os povos perpetuando uma das maiores obras do judaísmo: a reparação do homem e do mundo.

O kibutz clássico - a base da sociedade alternativa

O Kibutz clássico, surgido na primeira década do século XX, buscava criar a sociedade judaico-israelense no mundo contemporâneo. Ao voltar para Eretz Israel, o judeu deveria sofrer uma grande mudança na sua concepção de vida e visão de mundo. O 'novo homem', como foi definido pelos teóricos sionistas mais revolucionários, deveria ser livre, forte e destemido. Preparado para trabalhar sua terra pátria e lutar para defender sua liberdade e a de sua sociedade.
Na essência, a idéia seria fazer o movimento kibutziano crescer de tal maneira, que, no fim do processo de desenvolvimento social israelense, os cidadãos urbanos iriam mudar-se para o kibutz e o Estado judeu seria plenamente socialista.
Nos últimos vinte anos, deu-se a crise do movimento kibutziano clássico. Este processo porém não é semelhante em todos os kibutzim. O denominador comum dos cerca de 50 kibutzim que hoje seguem sendo “shetufi” (comunal) é a existência da divisão igualitária das rendas do kibutz entre seus membros. Já os cerca de 200 restantes foram privatizados, mas seguem mantendo uma rede consideravelmente grande de segurança social para seus membros.

MIgvan - o kibutz urbano e a resposta aos dilemas da sociedade israeli

O Kibutz urbano é uma idéia surgida e elaborada em meados da década de 80 por ex-membros de kibutzim que desejavam manter os objetivos sociais e a ideologia comunal do kibutz no meio urbano.
O exemplo mais sólido e estruturado é o Kibutz "Migvan". Localizado na cidade de Sderot, o Kibutz foi fundado em 1987 por seis membros, que alugaram alguns apartamentos em uma zona desprivilegiada da cidade. Uma vez instalados, cada membro recebeu seu espaço e reservou-se um espaço comunal para celebração de datas importantes (como Shabat e Chaguim) e organização de eventos culturais, além de servir para trabalho “legislativo" desta comunidade. Trabalhavam inicialmente em empregos comuns e, paralelamente, estavam envolvidos em projetos sociais para a região que moravam. A idéia do ativismo social surge ai como estamos acostumados a ver aqui no Brasil em algumas ONG's: deixar que os cidadãos atuem onde o governo falhou em atuar. Assim, iniciaram-se projetos para assistência a idosos, reforço escolar, trabalho com jovens envolvidos com tóxicos, recolhimento e distribuição de comida a necessitados, etc.
Ao longo do tempo, o Kibutz foi aumentando em membros e iniciativas. Fez-se possível levantar um empréstimo bancário para sair de sua localização e montar, literalmente, uma rua para o Kibutz. Aí foram instaladas casas para os membros e também construída uma grande casa para servir como espaço comunitário.
Atualmente, o kibutz tem 60 membros (religiosos e laicos), segue mantendo uma grande rede de projetos sociais e criou duas empresas na área tecnológica para manter uma renda constante. Os membros dividem sua renda de maneira igual e partilham uma conta conjunta. Além disso, organizam atividades culturais para a comunidade, grupos de estudo e celebrações importantes. Mesmo assim, o nível de dependência para a comunidade é menor do que em um kibutz clássico: o espaço individual é maior e as oportunidades de trabalho (outrora restringidas praticamente ao trabalho agrícola) somem. Assim, os bnei-kibutz (filhos do kibutz) terão uma probabilidade muito maior de seguir dentro da estrutura de Migvan.

Comunas - a alternativa jovem

Encontramos muita dificuldade em definir o que seria uma "comuna” em Israel. Elas encontram diversas formas de organização econômica, cultural e ideológica, além de serem formaaos por diversos grupos e terem objetivos muito distintos entre si. De modo geral, define-se uma comuna como um grupo de jovens que se unem em um mesmo espaço físico para viver um determinado período de sua vida juntos. Surgiram principalmente como uma alternativa a realização kibutziana dos movimentos juvenis (tnuot noar) israelenses.
Os grupos maduros (bogrim) das tnuot noar começaram a receber licença para, ao longo de um ano antes do serviço militar obrigatório, servir em trabalhos comunitários: o “shnat sheirut”
Através do shnat sheirut, surgiu a idéia de estender este trabalho social e esta forma de convivência grupal para depois do período militar. Os jovens terminariam seu serviço e unir-se-iam novamente, passando a estudar, trabalhar para manter sua micro comunidade e ajudar no desenvolvimento social da área onde estavam instalados, pois, semelhante ao kibutz urbano, a comuna costuma instalar-se em áreas desfavorecidas sócio-economicamente de uma determinada cidade.
Normalmente a comuna é localizada dentro de um apartamento, com a socialização da renda de seus participantes e o estimulo a atividades grupais sendo uma constante. Ao longo do tempo, espera-se que o envelhecimento de seus membros, aliado ao surgimento de pequenas famílias em seu interior tenda a transformar a comuna em algo muito semelhante ao kibutz urbano.
Por exemplo, uma comuna instalada na cidade de Beer Sheva e fundada por ex-membros do movimento juvenil Ha'noar Ha'oved, conta atualmente com trinta participantes, além de dois filhos de seus membros. A comuna começou como um apartamento (atualmente são vários), onde os diversos membros se dividem de acordo com o tamanho de suas famílias: solteiros dividem o apartamento com outros solteiros e casais recebem um lugar privado. Além disso, existe um espaço destinado apenas a atividades culturais, marcos sociais e à administração da comuna.
Apesar de atualmente muito funcional, os membros desta comuna (assim como os membros de muitas outras) são unânimes quanto ao que será de seu futuro. O que existe hoje é uma realização deste grupo que se formou ao longo de uma infância e adolescência em conjunto. Se seus filhos tentarem viver dentro desta estrutura, a comuna rapidamente passará pelo processo de esvaziamento humano que o kibutz tão tristemente passou. Como resposta enxerga-se apenas um caminho: que os bnei-comuna sejam estimulados a formar seu próprio garin e sua própria comuna, buscando assim sua própria hagshamá (realização).


A reconquista ecológica do Neguev

Dentro do espectro "sociedade alternativa" não se pode, enquadrar apenas as iniciativas que tem seus objetivos prioritários no âmbito da reforma sócio-econômica de Israel.
Atualmente, a questão ecológica está no topo da agenda de todas as grandes organizações do planeta. Em Israel, o movimento ecológico também recebe atenção prioritária. Porém, ao contrário de outros países, a questão da sustentabilidade vem atrelada ao profundo sentimento judaico-sionista de conquista da terra de Israel.
A vanguarda ecológica seguiu para alguns dos lugares mais estéreis do país: o deserto do Aravá. Uma das regiões mais secas, áridas e desabitadas do país, onde a temperatura no verão normalmente ultrapassa os 45 graus, está sendo o berço de uma serie de novas tecnologias e maneiras de vida, que tem seu principal foco na sustentabilidade da vida no deserto.
Entre outros, o kibutz "Lotan", fundado por integrantes do movimento judaico-progressista norte-americano, merece especial atenção. Há algum tempo, o Kibutz, imbuído pelo senso de responsabilidade a todos os âmbitos da vida pregado pelo judaísmo, buscou mudanças em suas estruturas para torná-lo mais "verde".
Atualmente, tornou-se pioneiro na coleta seletiva da parte sul do país, além de começar a construção de espaços que tendem a utilizar a menor quantidade de energia possível. Já existem uma serie de casas neste Kibutz construídas com barro e palha em forma de iglu. Isto, que ao nosso ver parece bastante estranho, torna o aparelho de ar condicionado desnecessário até no mais alto verão e mantém uma agradável temperatura nos frios invernos. Os fornos do kibutz dispensam a energia elétrica, pois trabalham a partir de um engenhos sistema de reflexo e concentração da luz solar e a produção de alimentos é, em grande parte, auto suficiente.

As alternativas pessoais

Um grande empecilho nos exemplos citados foi a necessidade de uma grande mudança no estilo de vida da pessoa que deseja montar uma alternativa para a sua vida no mundo neo-liberal. Como sabemos, grandes mudanças podem até ser de desejo de alguém, mas mudar organizacionalmente sua vida não necessariamente o é. Sendo assim, torna-se cada dia mais marcante na sociedade israeli o alto numero de cidadãos que aderem a projetos sociais e trabalham ativamente pela melhora eco-socioeconomica do pais, sem necessariamente assumir uma vida comunal, com todas as suas implicações e complicações.
Já é recorrente que indivíduos com interesses em comum criem algum tipo de ato, que pode ser posto em pratica por todas estas pessoas através de uma pequena alteração do seu dia a dia. Assim sendo, a alternativa criada não demanda nenhum grande comprometimento pelo grupo. Apenas um pequeno ponto, unânime, servirá de união entre as pessoas participantes e isto, atrelado a vontade de criar algo diferente do paradigma existente, será suficiente para modificá-lo e, conseqüentemente, classifica este grupo como uma sociedade alternativa. Os exemplos são os mais variados: pessoas que deixam de utilizar sacolas plásticas nos supermercados para preservar o meio ambiente, outros que vão apenas aos restaurantes que recebem um selo comprovante de respeito aos direitos dos trabalhadores ou então pessoas que decidem criar um grupo de teatro infantil para árabes e judeus.
Merecem destaque os "jardineiros alternativos" um grupo de pessoas que, anonimamente, se juntam, vão a um lugar menos favorecido economicamente e reconstroem os canteiros a sua volta, dando ao ambiente um ar de maior vida e alegrando seus habitantes.

Conclusão

As possibilidades são amplas, pois as necessidades eco-socio-economicas também o são. O diferencial que as sociedades alternativas tentam estabelecer é, primordialmente, o poder de ação que poucas pessoas unidas em torno de um mesmo objetivo tem. Não se torna necessário modificar de maneira revolucionaria sua maneira de vida, muito menos exige-se o rompimento com o mundo exterior. Necessário sim é a vontade de mudar o paradigma existente e atingir objetivos para um homem e um mundo melhor, sabendo que este é um trabalho constante que jamais encontrará fim, mas mesmo assim, extremamente importante. Conforme nos ensina a tradição judaica: um individuo não é obrigado a terminar o trabalho (se não o consegue), mas isto não exclui sua responsabilidade em começá-lo.
Sichel

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