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Friday 27 February 2009

Baruch Espinosa (1632 - 1677)

Baruch Espinosa (1632 - 1677)
Nasceu em Amsterdă, filho de uma família de judeus portugueses, emigrados para a Holanda. Embora convertidos ŕ fé cristă, para fugir aos tribunais da Santa Inquisiçăo, os marranos ou cristăos-novos, como eram chamados os judeus convertidos, continuavam vinculados ŕ tradiçăo judaica. Deste modo, o ensino de Espinosa voltou-se, na infância e adolescęncia, para o estudo do hebraico e do Talmud. Após este ensino tradicional, Espinosa, destinado a ser rabino, continuou seus estudos, travando conhecimento com a Cabala e com o pensamento de alguns filósofos judeus da Idade Média. Aos 24 anos, foi banido da comunidade judaica, sob alegaçăo de ateísmo. Dirigiu-se a Leyde e, pouco depois, passou a residir em La Haye, trabalhando como polidor de lentes, ofício que lhe permitiu garantir, por toda a vida, seu sustento. Integrou-se a um círculo de intelectuais liberais, recebendo, do médico Van den Ende, seu amigo, ensinamentos de latim, grego, física, geometria e da filosofia cartesiana. Travou contatos com Johannes de Witt e com Leibniz, e correspondeu-se com o químico Robert Boyle. Convidado para lecionar na Universidade de Heidelberg, recusou, pois o convite limitaria seus ensinamentos a preceitos filosóficos que năo pudessem comprometer a religiăo. De saúde debilitada e atacado, havia muitos anos, pela tuberculose, faleceu desta doença, em sua casa, aos 44 anos. Algumas de suas principais obras: Princípios da filosofia cartesiana, Ética, Reforma do entendimento, Tratado Teológico-político.

Introduçăo
"O fim supremo do homem é lutar para alcançar a completa sabedoria"
Irineu Strenger
O ponto de partida para as indagaçőes de Espinosa é a necessidade de instaurar um conhecimento seguro e verdadeiro da realidade.
Espinosa distingue quatro procedimentos de conhecimento:
• por ouvir dizer;
• por experięncia vaga;
• a partir de efeito;
• pela causa.
O conhecimento humano deve partir da causa primeira, produtora de toda a realidade. Este primeiro princípio é, para a compreensăo de Espinosa, Deus. Contudo, Deus é compreendido por Espinosa năo como causa final, como quer a tradiçăo escolástica, mas sim como causa eficiente. Deus năo representa a perfeiçăo para qual tende a realidade, mas sim o próprio ato de produçăo da realidade. Deus é o ser onde há absoluta identidade entre potęncia e existęncia. Assim, Ele é causa de si, e Sua auto-criaçăo deve coincidir com a criaçăo de toda realidade. Daí provém a compreensăo espinosista de Deus, que lhe valeu os epítetos de panteísta e, mesmo, de ateu: Deus sive Natura, Deus, isto é, Natureza. Deus é substância única, presente em todo ente criado; deste modo, pode-se caracterizar uma postura monista na filosofia de Espinosa, contrapondo-se ao dualismo cartesiano.
A Escravidăo

As emoçőes fundamentais derivam do instinto do homem, instinto esse, que em última instância, năo é senăo a conservaçăo do próprio ser. As emoçőes fundamentais săo a alegria e a tristeza.
A alegria é a emoçăo ligada ŕ conservaçăo e ao aperfeiçoamento do próprio ser, a tristeza é a emoçăo ligada a uma diminuiçăo dele. Săo nessas emoçőes que Espinosa declara estarem a escravidăo humana.
Espinosa diz que o bem ou o mal săo para o homem aquilo que permite entender e aquilo que impede de entender.
O homem que vive segundo a razăo năo responde o ódio com o ódio, ele opőe o amor e a generosidade a essas emoçőes más.
"O homem que domina as emoçőes, o homem livre, é aquele que, tendo compreendido a natureza das emoçőes, é capaz de agir, independentemente delas".
O homem deve compreender as suas próprias emoçőes e na medida em que as compreender deixará de ser escravo delas. A primeira condiçăo do domínio sobre as emoçőes é o reconhecimento da necessidade. A contemplaçăo desta necessidade é a contemplaçăo do próprio Deus.
"Chora-se menos por um bem perdido quando se sabe que a perda é inevitável; năo se lamenta um menino que năo sabe falar nem raciocinar porque se sabe que essa condiçăo é inevitável e natural. E assim todas as emoçőes diminuem o seu poder sobre o homem ŕ medida que o homem descobre a natural necessidade delas".



A Liberdade
"O homem năo nasce livre, mas torna-se livre ou liberta-se"
Edmilson Menezes
Para Espinosa, tudo o que existe, existe como resultado necessário da natureza divina. Ser necessário significa o que é determinado por outra coisa a existir e a operar de certa e determinada maneira. Com esta definiçăo, somente Deus năo é necessário: é a única causa livre.
Espinosa é radicalmente contrário ŕ noçăo de livre-arbítrio, pois, para ele, ser livre significa "o que existe exclusivamente pela necessidade da sua natureza e por si só é determinado a agir". A verdadeira liberdade significa conhecer a causa necessária das coisas e agir de acordo com essa necessidade, a liberdade é o conhecimento da necessidade.
"O homem julga-se liberto porque é consciente da sua vontade mas ignora a causa que a determina; ora esta causa é o próprio Deus, que determina a vontade humana, como todos os outros modos de ser, necessariamente".
O Tratado Teológico-político visa explicitamente subtrair o homem ŕ escravidăo da superstiçăo e restituí-lo ŕ sua liberdade de pensamento. Espinosa defende com veemęncia a liberdade da investigaçăo científica ( e foi o que fez por toda sua vida).

Assim diz Irineu Strenger:
"A conversăo da servidăo para a liberdade é a transformaçăo gradual, lenta que se dá em nós e pela qual a necessidade que antes nos parecia uma força exterior e deprimente, torna-se interna e expansiva".
O nosso eu atinge a sua plenitude quando o pensamento de Deus é o nosso pensamento, quando o nosso ser pensante transfunde e emerge no pensamento divino, quando se confunde com o próprio Deus, nossa essęncia. É somente nesta realizaçăo divina, neste conhecimento de si e das coisas que o homem, com sua individualidade conquistada, alcança a quietude da alma.
Somente aquele que age de maneira moral, vive a liberdade; a vida governada apenas pelas leis da inteligęncia. a natureza ideal do Homem é perfeita quando atinge a plenitude da razăo. Todos os nossos pensamentos e todas as nossas obras devem tender para esse fim. A suprema virtude está no esforço supremo para atingir a compreensăo das coisas que nos circundam e quanto maior for este esforço, maior será a virtude.
A virtude é a verdade posta em açăo, e por isso a realizaçăo da ordem eterna e imutável do universo. Quem possui a verdade conhece Deus, porque Deus é verdade, pois, entre o virtuoso e Deus existe uma perfeita correspondęncia de espírito e vontade e o homem se avizinha da divindade, torna-se igual a Deus.
A vida eterna é o reino da liberdade, da adequaçăo, năo teremos uma eternidade fora da vida presente, pois encontramos nesta, a identidade de nossa essęncia e de nossa existęncia numa escolha do tipo entre dois bens o maior e entre dois males o menor ou mesmo quando evitamos ou superamos o perigo. A liberdade está sempre ligada ŕ essęncia e ao que dela decorre e năo ŕ vontade e ao que a regula.
Liberdade Política
A liberdade de Espinosa năo contrapőe ao Estado. Espinosa afirma "que a liberdade individual de pensamento e expressăo năo é perigosa para o Estado, mas condiçăo da segurança política da paz".
Segundo o pensamento de Espinosa, conclui-se que a democracia é o melhor dos regimes políticos, pois garante o direito natural e o desejo natural de governar e năo ser governado, garantindo a lealdade coletiva.
"(...) apesar disso, outros regimes políticos podem ser instituídos contra a liberdade, a paz e a segurança do sujeito político coletivo. Medo da morte no povo desarmado, admiraçăo e respeito pelas riquezas dos ricos, fraqueza do conatus (potęncia natural de auto-conservaçăo) coletivo levam ŕ monarquia, ŕ aristocracia e ŕ tirania".
A filosofia Espinosana, decerto, vai contra esses regimes políticos (regimes tirânicos), uma vez que, proclamam o aprisionamento dos espíritos, além de alimentarem a tristeza, o ódio e o medo, enfraquecendo o conatus de cada um e o do sujeito político coletivo.
"Assim como a liberdade individual exprime a força do corpo e da alma enquanto causas adequadas de suas afecçőes, afetos e idéias, assim também a liberdade política só se realiza quando o direito civil (as leis) e o Estado (as instituiçőes de governo) fortalecem o conatus coletivo, em lugar de enfraquecę-lo e subjugá-lo no medo, na ilusăo supersticiosa e nas promessas de recompensas numa vida celeste futura para os ofendidos e humilhados nesta vida".



Espinosa na Contemporâneidade
O pensamento de Espinosa continua tăo atual quanto em seus dias. Muitos físicos contemporâneos tem retomado as idéias deste filósofo com relaçăo ŕ Natureza. O próprio Einstein declarou haver uma metafísica Espinosana em sua teoria da relatividade.
Além dos físicos, há muitos psicanalistas que insistem nos inúmeros pontos comuns entre Espinosa e Freud, principalmente com relaçăo ao corpo e alma, o desejo e a teoria da imaginaçăo.
Outros ainda declaram que Marx deve muito ao pensador moderno e que sua teoria da alienaçăo foi elaborada ŕ partir do Tratado Teológico-Político e ŕ Ética.
Todos os pensadores que formulem questőes a respeito da Natureza, do Homem, da História, da Política e da Liberdade, devem, obrigatoriamente, caminhar pelos campos onde essas sementes estăo enraizadas, ou seja, nos jardins filosóficos de Espinosa.

Taitson Santos

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