A História dos Judeus Etíopes
PORTUGUES:
Organização: Ilana Kreimer e Jayme Fucs Bar
PARTE I : INTRODUÇÃO
1. Conhecendo a Etiópia
(Fonte: http://www.eurosur.org/)
Etiópia Yaitopya
População: 61.095.000 (1999)Superfície: 1.104.300 km2Capital: Adis-AbebaMoeda: Birr etíopeIdioma: Amárico
O AmbientePaís montanhoso, sem costa, com alturas de mais de 4.000 m, está isolado das regiões vizinhas pelo seu relevo. Três zonas de vegetação se dispõe, nas chapadas e montanhas: as chapadas altas, com mais de 2.500 m têm clima chuvoso e fresco. Na Dega, onde se cultivam cereais e se cria gado bovino. Nos vales profundos que atravessam as chapadas se encontram terras quentes e chuvosas com selvas: a Kolla (até 1.500 m). As chapadas médias (1.500-2.500 m), com clima menos chuvoso e menos quente, são a parte mais povoada do país, com cultivos de café e algodão. Ao leste, a chapada desértica de Ogadén está habitada por pastores nômades de origem na Somalia. Muitas regiões, antes ricas em vegetação, são atualmente deserto e rochas. A desertificação e erosão está aumentando na última década, se convertendo no principal problema do meio ambiente.
A SociedadePovo: os etíopes pertencem a mais de 90 etnias, das quais apenas 7 contam com mais de 1 milhão de pessoas. Os oromos são um terço da população, os amharas aproximadamente um quarto, os tigres um décimo. Há também os guragis, somalianos, sidamas e wolaitas. Atualmente são reconhecidas 22 minorias.Religião: a igreja católica ortodoxa etíope é a maioria entre os amharas e tigres. A maioria dos somalianos, afares e aderis são muçulmanos. Também se praticam religiões tradicionais africanas. Idiomas: há quatro grandes famílias lingüísticas: semitas (amharas), kuchitas (oromos, somalianas, afares), omóticos e nilo-saharianos. O amárico é o idioma oficial, entre as 80 línguas que se registram.
O EstadoNome oficial: República Democrática Federal de Etiópia.Divisão administrativa: 9 regiões baseadas em critérios étnicos. Capital: Adis-Abeba, 2:209.000 hab. (1995).
História
O termo "etíope" (cara queimada, em grego) se aplicava na antiguidade a todos os africanos. O outro nome do país, Abisínia, parece derivar do árabe habbashat, que designa uma das etnias do Yemen que emigrou para a África por volta do ano 2000 a.C.
Axum, ao norte da atual Etiópia, alcançou seu apogeu no início da era cristã, sendo o centro do tráfico entre o vale do alto Nilo (Nahr-an-Nil) e os portos do mar Vermelho que comerciavam com Arábia e Índia. Estado próspero e rico, chegou a dominar o atual Yemen, mas sofreu uma crise no séc. VII, porque os circuitos comerciais se modificaram com a unificação e expansão dos árabes e a subsequente conquista do Egito.
A conversão ao cristianismo da classe dirigente etíope, no séc. IV, foi um fator adicional de isolamento. A posterior expansão ao sul, a hipertrofia do clero e a decadência comercial, trouxeram um processo de feudalização semelhante ao do ocidente europeu. A partir do séc. XVI, um terço da terra pertencia ao "rei dos reis, outro terço aos monastérios e o resto se dividia entre a nobreza e a população em geral.
A sublevação da população muçulmana da costa do mar Vermelho, que havia desenvolvido uma economia mercantil de grande vitalidade, levou os etíopes a renovar seus contatos com a Europa para pedir ajuda. O socorro demorou quase um século para chegar, mas foi eficiente: a frota portuguesa teve um papel decisivo na destruição do sultanato de Adal.
A atenção prestada pelos imperadores ao litoral, durante um século e meio, criou a oportunidade para que os gallas penetrassem desde o oeste gradualmente, até chegar a se converter no elemento majoritário da população.
Esta situação se manteve até 1889, quando Menelik II subiu ao trono: designado herdeiro em 1869, teve 20 anos para preparar um exército com ajuda inglesa e italiana e organizar a administração de seu feudo pessoal, o reino de Choa. Tal eficiência foi providencial, porque em 1895 seus ex-aliados italianos invadiram o país, alegando o não cumprimento de compromissos anteriores. Na batalha decisiva, em Adua, em 1896, morreram 4.000 dos 10.000 soldados italianos: foi a maior derrota sofrida por europeus na África até a guerra da Argélia.
Apesar disso, Itália obteve, através de negociações diplomáticas, dois territórios que na verdade Etíopia não controlava: Eritreia e o sul da costa somaliana. Em 1906, as potências reconheceram a independência e a integridade territorial do país, em troca de vantagens econômicas em Abisínia.
Este acordo salvou o país do colonialismo direto até 1936, quando o ditador Benito Mussolini invadiu Etiópia se aproveitando da luta interna entre os candidatos à sucessão de Menelik. O herdeiro do trono, Haile Selassie pediu ajuda à Sociedade das Nações mas não conseguiu acordos concretos.
Em 5 anos de ocupação, Itália montou várias indústrias de transformação, assim como plantações de café, e implantou um sistema de discriminação racial semelhante ao Apartheid sul africano.
Os etíopes reconquistaram a independência em 1948, das mãos do Reino Unido, que assumiu o controle do país depois da caída de Mussolini. Haile Selassie voltou ao trono, mas encontrou a nação em uma crise sem prescedentes. A estrutura produtiva estava desorganizada; os movimentos nacionalistas que haviam lutado contra o invasor não aceitavam o retorno a uma situação feudal, e a miséria no interior se havia agravado.
O imperador denunciou o colonialismo, apoiou o Movimento de Países Não-aliados e a Organização da Unidade Africana (OUA), cuja sede se instalou em Adis-Abeba, ao mesmo tempo que manteve estreitos vínculos com Israel. Com Selassie se criou uma burocracia estatal, um sistema educativo inspirado no dos Estados Unidos e o maior exército da África subsahariana.
A estrutura agrária mudou pouco: os senhores feudais e a igreja ortodoxa controlavam 80% das terras férteis do país. As plantações para a exportação (algodão, açúcar) começaram a crescer a partir dos anos 50, enquanto o principal produto, o café, era cultivado por pequenos agricultores. Selassie foi deposto em 1974, depois de uma sucessão de greves, manifestações estudantis e protestos generalizados contra o absolutismo e a falta de alimentos.
Um Comitê Coordenador das Forças Armadas, Dergue (comitê, em amárico), encabeçado pelo general Aman Andom, aboliu a monarquia e proclamou a república. A Constitução foi suspendida e o parlamento dissolvido. Depois de sucessivas crises internas, em dezembro de 1977 assumiu o poder o coronel Mengistu Haile Mariam, que conseguiu consolidar o Dergue e pôr fim à luta interna nas Forças Armadas.
O governo militar nacionalizou os bancos, os seguros e as grandes indústrias de capital extrangeiro e fechou as bases militares norte americanas. A chave da "revolução nacional democrática" foi a estatização do solo e do sub-solo, que pôs fim ao poder dos proprietários de terras. O "socialismo científico" foi adotado como ideologia oficial em junho de 1976. A oposição foi aplastada mediante o "terror vermelho" entre 1977 e 1978, período no qual foram executadas sumariamente milhares de pessoas.
Diante da tentativa somaliana de anexar o Ogadén, a URSS rompeu os acordos militares com o presidente somaliano Siad Barre. O apoio soviético e cubano à Etiópia foi decisivo para a derrota das tropas somalianas, numa moderna guerra de blindados. Enquanto isso, uma guerrilha de base campesina começa na região de Tigray.
Em 1984 o país começou a sofrer os efeitos de um período de seca que se prolongava desde 1982 e que provocou milhares de mortes por fome e desnutrição. 12 províncias foram afetadas pela seca que matou mais de 500 mil camponeses e ameaçaram a sobrevivência de 5 milhões mais.
No mesmo ano se realizou o congreso de fundação do Partido dos Trabalhadores da Etiópia (PWE), que aprovou o programa de transformação do país em um estado socialista.
Em 12 de setembro, o Parlamento (Shengo) proclamou a República Popular Democrática e nomeou a Mengistu como chefe de Estado. Os separatistas passaram a atuar tanto nas províncias de Eritrea e Tigray, como em Wollo, Gondar e em Oromo, no sul.
A atividade militar rebelde impôs novas e pesadas reduções no exército etíope e o comando tentou um golpe de Estado, em 1989. Mengistu voltou rapidamente ao país da Alemanha oriental e abortou a tentativa.
Em setembro de 1989 os últimos soldados cubanos se retiraram da Etiopía, a pedido do governo, que em abril de 1988 havia firmado a paz com Somália.
Etiópia se aproximou de Israel, país com o qual havia rompido relações depois da guerra de 1973. Mengistu estava interessado na ajuda militar de israelense e a emigração de 17 mil judeus etíopes. A situação de milhões de habitantes se agravou em Eritrea e Tigray, onde a seca reduziu a colheita de grãos em quase 80%.
Em março de 1990 a ex-URSS retirou seus conselheiros militares de Eritrea. Em maio de 1991, Mengistu Mariam fugiu de forma surpreendente do país. O governo ficou a cargo do vice-presidente Tesfaye Gabre Kidane, considerado um "moderado", que instituiu um governo de transição negociando um cessar fogo com os rebeldes eritreos.
O governo de Kidane participou de um diálogo de paz celebrado em Londres, presidido pelos Estados Unidos, com a participação dos mais importantes grupos rebeldes, para chegar a um acordo que impidiria a guerra civil. Kidane renunciou fins de maio. Meles Zenawi assumiu o cargo de presidente interino até a realização de uma conferência multi-partidária e prometeu pôr fim à guerra civil e tirar o país da fome. Três meses depois, ao reabrir o Parlamento e promulgar uma nova Constitução, Meles se comprometeu a realizar eleições em um prazo de um ano.
Em maio de 1994, o Conselho de Representantes, um organismo transitório de 87 membros, aprovou o projeto de Constituição que criava a República Democrática Federal de Etiópia. Tal projeto se baseava na doutrina do "federalismo étnico", que rompia com a anterior visião oficial unitária do país. Segundo o texto aprovado, a "soberania reside nas nações, nacionalidades e povos da Etiópia" e não no povo em seu conjunto.
Em maio e junho de 1995, tiveram lugar as eleições parlamentárias, as quais foram boicotadas pela maioria dos partidos opositores. A nova república federal ficou estabelecida oficialmente em agosto, ao assumir a presidência Negasso Gidada, um oromo cristão. O ex-presidente Meles Zenawi, assumiu o cargo de primeiro ministro e os 17 membros do governo foram cuidadosamente selecionados para que reflitam "o equilíbrio étnico" do país.
Em 1996 foi abortada una tentativa de assassinato contra Mengistu. Grande parte de seus antigos colaboradores continuavam na prisão. O Banco Mundial anunciou um importante recorte da dívida etíope. Anistia Internacional reinterou em 1997 o pedido de liberação de opositores e pediu o fim das prisões arbitrárias, torturas e desaparecimento.
A princípios de 1998, a escassez de alimentos ameaçava milhões de etíopes. O acceso a produtos de primeira necessidade se fez cada vez mais difícil para os sectores mais modestos da sociedad, como consequência de aumentos de preços decretados pelo governo.
Os combates com Eritrea se reiniciaram em fevereiro de 1999, na disputa fronteriça que em maio de 1998 ocasionou a muerte de 1.000 pessoas. Tropas da Etiópia fortemente armadas entraram a Eritrea em maio de 2000, capturando 300 prisioneiros. Como em 1998, o Conselho de Segurança da ONU lançou um ultimato de 3 dias para cessar os enfrentamentos, o ultimato não foi acatado pelas partes e o conflito continuou.
2. A História dos Judeus Etíopes
(Fonte: www.snunitk12.il/seder/ethiopia)
Diante da pergunta: “Quem são os judeus etíopes?” encontraremos diferentes versões. Uma delas afirma serem estes os descendentes da tribo Dan, uma das 10 tribos do Reino de Israel, que foi destruída em 719 a.c.De acordo com outra versão, estes seriam descendentes de imigrantes judeus do Egito e do Yemen. E também há outras versões, menos prováveis, que estes seriam descendentes de uma tribo africana que se converteram no séc. XV ou que estes seriam descendentes do Rei Salomão e da Rainha de Sabá.
Quanto a pergunta “Quando chegaram na Etiópia?” também apresenta diferentes respostas e falam de datas e acontecimentos diferentes: saída do Egito, Período do I Templo, Época da separação em 2 reinados, Período do II Templo, Séc. VI a.c. na guerra entre Yemen e Etiópia, quando os judeus yemenitas foram tidos como prisioneiros na Etiópia e até no Séc. XV quando, de acordo com a versão, os judeus teriam se convertido.
Atualmente é aceita a versão de que os judeus da Etiópia são descendentes da tribo Dan e que ao decorrer do tempo outros foram se agregando a ela. De acordo com o Rabino Menachem Waldman o qual investigou as origens dos etíopes: “É possível admitir que os judeus chegaram a Etiópia já na época do I Templo e que outra onda tenha vindo com a destruição do Templo e no período do II Templo pelo Egito, através do rio Nilo. É possível que conversos e talvez outros judeus provenientes do Yemen hajam aumentado e fortalecido a comunidade já existente e influente nas regiões ao redor do lago Tana.
Muito pouco se sabe da comunidade judaica etíope até o séc. XIV, mas três personalidades se consolidaram na tradição:
1. Eldad Hadani: Foi um viajante judeu que, pelo que parece, visitou comunidades judaicas na África e Ásia trazendo suas histórias para os judeus da Babilônia, da Espanha e do Norte da África. Ele conta sobre a tribo Dan que desceu pelo Egito na época da divisão dos reinos, isto é, 850 a.c.. É importante salientar que os invesitgadores contemporâneos duvidam desta versão tão antiga.
2. Yehudit: Uma antiga tradição etíope conta sobre uma rainha de origem judaica chamada Yehudit que liderou o levante dos judeus e de outras tribos do sul da Etiópia contra dinastia que regia nesta época.
3. Praster John: Rei etíope católico que em suas cartas datadas do séc. XII registra a presença judaica em seu reinado.
Entre os séculos XIV e XVII, foi a época das guerras entre os judeus, denominados “Beita Israel” (Beit Israel) e os católicos. Foram guerras por terras mas também de fundo religioso. “Beita Israel” lutou contra a imposição da religião católica e tal luta os prejudicou física e economicamente. O rei Ischak, figura expoente nesta época, derrotou seus opositores e obrigou os judeus a se converterem ao cristianismo sob ameaça de perderem suas terras: “Quem se converter ao cristianismo poderá herdar as terras de seu pai. Quem não o fizer, será Falashi”. Até pouco tempo atrás chamaram os judeus etíopes de “falashim” porém estes rejeitaram tal nomeclatura por ser esta depressiva.
Figura importante neste mesma época foi o monge Cozmus. O fenômeno de haver monges no judaísmo é única no judaísmo etíope e através dos tempos estes foram responsáveis pela conservação do judaísmo na luta frente as inúmeras tentativas de conversão ao cristianismo. O monge Cozmus copiou escritos judaicos e a Torá e liderou a resistência frente aos católicos.
1632-1769: Época denominada “Época Gondar” pois na cidade de Gondar e nos seus arredores se encontravam a maioria da comunidade judaica. Esta comunidade sofreu mudanças econômicas que possibilitou sua sobrevivência. Os judeus eram então conhecidos como bons construtores e marcineiros e trabalhavam na construção de edifícios públicos e palácios. Desta maneira conseguiram prestígio e terras.
1769-1855: Período dos príncipes, época caracterizada pela instabilidade política e decadência econômica. As construções foram interrompidas e os judeus ficaram desempregados e foram obrigados a trabalhar em ofícios mal vistos como trabalhar com ferro e barro. Tiraram deles seus títulos de honra e os governantes locais se apoderaram de suas terras. Estes anos se caracterizam por problemas religiosos e novamente foram os monges que fortaleceram e conservaram a tradição judaica da comunidade. No séc. XIX chega à Etiópia “Companhia Londrina de propagação do cristianismo entre os judeus” sendo seu objetivo claro converter a comunidade judaica ao cristianismo. Alguns membros da comunidade se converteram e se ocuparam da conversão de outros. Com o tempo se instaurou na comunidade um conflito entre os convertidos e aqueles que conservaram seu judaísmo. Este conflito abalou as estruturas comunitárias e a liderança religiosa.
1862: Abba Mahari com outros 70.000 judeus etíopes começaram sua trajetória a Jerusalém através do Rio Vermelho. Esta foi uma consequência da luta contra a conversão ao catolicismo e como prova de fidelidade a Tzion. Milhares de pessoas morreram na primeira tentativa de aliá a Israel.
1867: Se renovou o contato entre judeus etíopes e judeus do mundo. Investigador judeu de Paris, Yossef Halevi visitou as comunidades judaicas na Etiópia e na volta publicou um livro chamado “Kol Korê” pedindo que os judeus europeus salvem o judaismo etíope. Este mesmo investigador pediu a instituição chamada “Kol Israel Chaverim” (KIC) para que institua escolas judaicas na Etiópia mas seu pedido não foi aceito.
1904: Yacov Faitlovitz, um dos alunos de Yossef Halevi, foi enviado pelo Barão de Rotchild e a instituição KIC. Faitlovitz, denominado “O pai dos Falashim”, trouxe consigo para Europa dois jovens etíopes com o objetivo de educá-los dentro das tradições judaicas para que ao seu retorno pudessem ensinar a toda a comunidade. Faitlovitz fez muito pelos judeus etíopes e fundou uma escola judaica para “Beit Israel” em Adis Abeba, capital da Etiópia.
1923: Tamarat Emanuel, um dos dois jovens trazidos à Europa por Faitlovitz voltou para a Etiópia depois de anos de estudo e dirigiu uma escola de preparação de professores para crianças. Este foi muito ativo na comunidade e trabalhou muito junto a Haile Selassie em prol dos judeus.
1936-1941: Nestes anos o exército italiano conquistou a Etiópia, tendo uma má relação para com os judeus. Selassie fugiu do país passando um tempo em Jerusalém.
1941-1973: Os anos depois do domínio italiano trouxeram consigo uma melhoria das condições de “Beita Israel”. Selassie volta ao governo. Nos anos 50 e 60 mantiveram-se relações diplomáticas com Israel, as quais foram cortadas depois da guerra de Iom Kipur em 1973
1974: Ocorre um golpe marxista na Etiópia sob o comando de Mengistu, 2.500 judeus foram mortos e 7.000 ficaram sem casa e sem propriedade. Centenas de milhares de camponeses etíopes são enviados aos campos coletivos regidos pelos ideais marxistas-leninistas. Com isso, não-judeus se assentaram em aldeias de “Beita Israel” o que aumentou o ódio contra os judeus e a agressão a eles.
1977: Menachem Begin foi eleito Primeiro Ministro e uma de suas ações foi uma operação para salvar os judeus etíopes. Com a permissão rabínica do rabino Ovadia Yossef que reconheceu o judaísmo deles e o perigo que estão passando, Begin ordenou as forças israelenses que trouxessem os judeus etíopes para Israel.
Anos 80: A situação dos judeus só piorava. “Beita Israel” ficou proibido de cumprir as mitzvot e de estudar hebraico. Líderes comunitários foram detidos sob acusaçãoo de espionagem a favor dos “sionistas”. A Keissim ( os líderes religiosos etíopes) eram mantidos sob vigilância. Além disso, a lei etíope obrigava crianças de 12 a servirem o exército e as crianças judias estavam ameaçadas de serem separadas dos pais. Os judeus se encontravam então obrigados a se desligarem de sua tradição, discriminados pelo fato de serem judeus e sob risco de vida nas guerras da Etiópia.
Nestes anos, a fome provocava mortes por desnutrição e por doenças. Mengistu não teve que pedir ajuda humanitária aos países ocidentais, dentre eles Israel. Estas relações que foram criadas serviram de base para uma pressão internacional sobre Mengistu para que libere os judeus e os permita imigrarem a Israel. Entre os anos de 1977-1984 fizeram aliá a Israel 8.000 judeus.
1984: “Operação Moisés” - Começa em 18 de novembro uma operação corajosa para trazer os judeus etíopes a Israel. Nesta operação foram trazidos 8.000 judeus. 15.000 judeus ficaram na Etiópia, cada um em um diferente estágio de preparação para aliá. Alguns já haviam vendido tudo o que tinham, outros se encontravam a caminho, na Etiópia ou já no Sudão. Ficaram para trás principalmente aqueles mais fracos. Famílias se separaram, jovens foram colocados em colégios internos enquanto seus pais corriam risco de vida ainda na Etiópia.
Nos anos que se seguiram foram feitas várias tentativas secretas para trazer a Israel todos aqueles que ficaram ainda na Etiópia: “Operação Sabá”, na qual foram trazidos mais 1.200 judeus que haviam ficado em acampamentos no Sudão e “Operação Yoshua” em 1985 na qual foram trazidos mais 800 judeus.
Anos 90: Havia nesta época um acordo entre Israel e a Etiópia pelo qual seria permitida a aliá de um número pequeno de judeus para a “unificação de família” e assim uma onda lenta de aliá começou a chegar a Israel. Em 1991, forças unificadas de Eritrea e Tigray se rebelaram contra o governo de Mengistu e no princípio de maio este fugiu da Etiópia. Os rebeldes dominaram a capital Adis Abeba e com isso a situação dos judeus na Etiópia tornou-se preferência em Israel.
1991: “Operação Salomão” – Em 36 horas foram trazidos 14.324 judeus
3. Dicionário Português-Hebraico-Amárico
Português
Hebraico
Amareu
Bom Dia
Boker Tov
Dahna Daratshnu
Como vai?
Ma Nishmá?
Dahna Ned (mas.)/
Dahna Nesh (fem.)?
Bem
Tov
Tru
Nada Bem
Lo Tov
Tru Ayidalem
Sentem-se, por favor
Shvu Bevakashá
Cutshi Velu
De nada
Ein Davar
Minm Adel
Obrigado
Todá
Amassagnalahu
Sucesso!
Behatzlachá
Malkam Adal
Criança
Ieled
Litsh
Crianças
Ieladim
Lijotshi
Amanhã
Machar
Negue
PARTE II: HISTÓRIAS DE VIDA
1. Dando rosto aos números
Sempre quando falamos da aliá etíope, dos judeus etíopes, das Operações Moisés, Sabá, Yoshua e Salomão falamos de números. 70.000 saíram em 1862 rumo a Jerusalém através do mar vermelho; 2 foram trazidos pelo Prof. Yacov Feitalovitz para estudar em Israel e voltar para Etiópia; Durante o golpe marxista 2.500 foram assassinados e 7.000 ficaram sem casa e sem propriedades; Em 1977 numa venda de armas a Mengistu, o mesmo avião trouxe 200 judeus a Israel; Entre os anos 1977-1984 8.000 judeus fizeram aliá a Israel; A Operação Moisés trouxe mais 8.000 e outros 15.000 permaneceram na Etiópia; Na Operação Sabá mais 1.200 judeus que haviam ficado nos acampamentos no Sudão; Na Operação Yoshua em 1985 foram trazidos 800 judeus; Na Operação Salomão, em 36 horas, foram trazidos 14.324 judeus etíopes. Hoje vivem em Israel 40.000 judeus etíopes do que chamamos “Beita Israel”.
O objetivo desta apostila é dar rosto a estes números, deixar que alguns deles tornem-se histórias de vida e não apenas um número e que desta maneira possamos conhecer mais a história do indivíduo, de seus sentimentos, suas decepções e suas expectativas, seus sonhos e seus desejos.
1. Adissu Malaku
(Fonte: Mossaf Haaretz, Haaretz, 11.05.2001)
Adissu tem 45 anos, casado com Yabsfer e pai de dois meninos: Simon de 8 anos e Eliezer de 4 anos. Trabalha no Machon Hatkanim em Tel Aviv na verificação do solo e sua esposa também trabalha. A família mora em Rishon Letzion.
A figura mais israelense ao seu ver é Itzhak Rabin. Seu programa de televisão preferido é “Lagat Baosher” (=novela israelense). Lê o jornal Iediot Achronot e tem na sua cabeceira o livro “Silent Treatment” de Michael Palmar, livro o qual começou a ler ainda na Etiópia chegando a página 40, emprestou a um amigo que imigrou aos EUA e só agora recebeu de volta.
“Nós não viemos da selva, mas os israelenses não sabem nada sobre a Etiópia. Os meios de comunicação não mostram os lindos edifícios de Adis Abeba, apenas mostram aldeias e burros. Quando eu conto as pessoas que em Adis Abeba havia edifícios de 16 andares, eles me perguntam, “de que você está falando?”. Nos menosprezam e isso não é fácil. É uma verdadeira guerra. Sobre cada coisa ruim por menor que seja se escreve uma folha inteira mas sobre a nossa cultura não se escreve nada. Nossa guerra começa contra a televisão e os jornais.
“O sonho de fazer aliá era o sonho de todos os judeus. Cresci numa aldeia perto de Gondar. Meus pais me contavam quando eu era criança que Israel era “Eretz Zavat Chalav Udvash” (=terra que jorra leite e mel), que o leite e o mel caem como chuva. Eu pensava que em Israel todos eram religiosos. Tentei chegar a Israel pela Quênia já em 1986. Fui pego e depois não me deixaram mais sair. Voltei para o meu trabalho na secretaria de habitação. No momento em que tive a possibilidade de fazer aliá para Israel na Operação Salomão, a aproveitei. Não tive nenhuma dúvida. Pensava que Jerusalém era um lugar perfeito, um lugar todo de ouro, um lugar santo.
“Antes de chegar pensava que tudo ia ser fácil, mas nem tudo foi fácil. É necessario ter muita paciência, muita força. Não sabia a língua, não tinha dinheiro. Na Etiópia eu sim tinha dinheiro e de repente em Israel coloquei a mão no bolso e não tinha dinheiro. Também não me acostumei ao falafel. Cheguei em Israel com 35 anos e ainda solteiro. Queria encontrar uma esposa. Não sabia como fazê-lo mas aí D-us me ajudou. Yabsfer era amiga de um amigo que estudou comigo na Etiópia. Quando a encontrei em Israel não podia imaginar que ela ainda era solteira. Às vezes você se acorda do lado direito e encontra uma coisa e outro dia se levanta do lado esquerdo e encontra outra coisa.
“Ela chegou na Operação Moisés. Nos primeiros anos havia uma diferenciação entre aqueles que chegaram na Operação Moisés daqueles que chegaram na Salomão. Aqueles da Moisés se sentiam antigos por aqui e chamavam aqueles da Salomão de “Olim Chadashim” (=Novos Imigrantes). Havia uma sensação de superioridade por parte deles. Com o tempo isso passou e hoje todos são iguais. Quando me casei com minha esposa perguntaram a ela: “Por que você está se casando com um novo imigrante?”.
“A coisa que mais me impressionou em Israel foi o fato dos israelenses me pedirem paciência quando eles próprios não a tem. É muito diferente do nosso temperamento. Os israelenses são “cara-de-pau”. Por exemplo, eu vou para a clínica médica ou para outro lugar e fico na fila. De repente chega alguém dizendo que estava antes de mim. É uma cara-de-pau. Na Etiópia não tem disso não. Aí você tenta explicar que isso não está certo e o outro tenta te explicar porque isso é correto sim. Eu não quero entrar em discussão então abro mão da minha vez.
“Meus filhos voltam da escola israelense com um comportamento israelense, mas isso não me incomoda. Eu quero que eles sejam como todas as outras crianças. Em Israel se você não fala, você não recebe. É preferível que os meus filhos sejam “cara-de-pau” como os israelenses. Isso incomoda aos meus pais. Eles não conhecem a cultura israelense e não gostam do comportamento das crianças, que jogam as coisas e gritam. De certa maneira gostaria que eles respeitassem os pais e os mais velhos. Gostaria que isso acontecesse, mas não tem jeito.
“Os problemas não se solucionarão em dois dias. Levará 50-60 anos. A mancha negra não desaparecerá tão rápido. Até mesmo as crianças da próxima geração não viverão aqui como iguais. Eu acho que o comportamento para com os imigrantes etíopes tem piorado. No início, quando chegamos, tentavam nos ajudar em qualquer situação. Agora não existe este sentimento e isto me incomoda. No tema de absorção pisoteiam nossa comunidade. Tenho uma mãe doente com a perna quebrada e vive com minha vó que é cega. Elas moram no quarto andar e pediram para se mudar para um andar mais baixo. Escrevi cartas, falei com Eli Ishai (=ministro do partido Shas) mas nada ajudou. Nosso problema é a burocracia e o fato de não sabermos lutar contra ela.
“Na minha prateleira tenho livros em hebraico, em inglês e em amárico. Sempre vejo a televisão israelense, vejo esporte israelense. Gosto de quem joga bem. Em geral não jogam bem então eu vejo o campeonato inglês, o francês e o espanhol. Os programas em amárico da televisão israelense só vejo quando tenho tempo. A coisa etíope que mais ficou em mim é a comida etíope, especialmente nas sextas. Foi isso que ficou: a comida.
“Não tenho amigos israelenses. Minha mulher sim. Ela estudou com eles na universidade. Os amigos que convido para minha casa são na maioria imigrantes etíopes. Mas não tenho muito amigos. É difícil começar a fazer amizades na idade adulta. Nas minhas horas livres vejo televisão, escuto música negra e etíope clássica e ajudou meus filhos com os deveres de casa. Não conheço escritores israelenses.
“Em geral estou feliz que fiz aliá. Primeiramente, este era um sonho de 2.000 anos. Qualquer um fica feliz em realizar um sonho de 2.000 anos. Segundo, eu até que me organizei rápido. Terceiro, toda a minha família está com saúde, todos estão bem, e isto também é uma felicidade. Em um determinado momento me senti muito israelense: no assassinato de Rabin. Estava em minha casa. Era um sábado à noite, assistia a manifestação na praça Reis de Israel. Nunca pensei nisso, nem no meu pior pesadelo, que um primeiro ministro seria assassinado por um judeu. O que mais me chocou foi o fato de ser um judeu que fez isso. Não sou nem de direita nem de esquerda, mas admirava Rabin. Achava que ele faria o bem, tinha uma esperança neste sentido e esta foi arrancada em um segundo, de repente”.
2. Shlomit Daniel
(Fonte: Mossaf Haaretz, Haaretz, 11.05.2001)
Shlomit tem 24 anos, estudante de educação especial no College David Ielin, solteira, é a primeira oficial do exército da Operação Salomão. Ela serviu o exército na Gadná. Filha do meio de uma família com 5 filhos, 4 meninas e 1 menino e trabalha como madrichá dos imigrantes no Centro de Absroção em Mevasseret Tzion.
As figuras mais israelenses em sua opinião são A. B. Ioshua, Haim Iavin e Ytzhak Shamir. Seu programa preferido na televisão israelense é “Rak BeIsrael” (=programa humorístico). Lê os três grandes jornais diários e tem em sua cabeceira o livro “O mundo de Sofia”.
“Depois de um mês e meio no Ulpan fui mandada para o Colégio Interno “Kfar Pinas”. Este é um colégio muito religioso. Ninguém me consultou. A morá do Ulpan tentou me explicar o que é o Kfar Pinas, mas quando me disseram que era um internato religioso não entendi o significado. Fui para lá vestindo calça comprida. Nos disseram para não vestir calça e não entendemos qual a lógica. Achávamos que não era certo que nos dissessem o que deveríamos vestir mas aceitamos isso pois nos disseram que este era o melhor internato.
“Não me adaptei a Kfar Pinas. Depois que terminamos o Ulpan no Internato perguntamos o que aconteceria agora. E nos disseram: ‘Vocês são um projeto, vocês devem continuar neste lugar, em uma turma separada’. Não concordei ficar em uma turma separada. Nos disseram: ‘É o que há! Não vamos te tirar da turma de etíopes’. No mesmo momento senti que nos viam como um rebanho de cordeiros, que não podia se separar, como se não fóssemos indivíduos. Não acho que o motivo para isso era a nossa cor. Talvez era simplesmente mais fácil para eles. Colocar uma criança etíope que não sabe o idioma em uma turma normal pede muito investimento. Hoje que estou dentro do sistema sei que o dilema é realmente enorme.
“Saí de Kfar Pinas depois de 6 meses. Fui para casa. Fiz as provas para entrar na Colégio Caduri, perto de Tibérias, um colégio laico e também para entrar em um colégio religioso também lá. Fui aceita nos dois. Decidi pelo laico. Estudei lá até que meus pais se mudaram para Iavne. Tinha então 16 anos. Já tinha amigos na escola e tive que deixá-las novamente. Aí já foi difícil, deixar novamente os amigos e também os estudos. Mas nesta época eu tinha um objetivo: não um objetivo social e sim um objetivo nos estudos. Ter sucesso nos estudos.
“Estudei o científico no colégio agrícola “Aianot” perto de Iavne. Não havia estudantes etíopes na minha classe. Me receberam bem. Eu tinha amigos israelenses. Não me sentia “outsider”, ficava principalmente nas classes dos imigrantes da Rússia. Eles eram muito aplicados nos estudos então me dava com eles. Estudei na Megamá de biologia, sempre tive a curiosidade sobre o corpo humano.
“Tudo o que eu sabia sobre Israel eram lendas. Tinha na mente que Israel era como no Tanach, terra de leite e mel. Pensei em um outro país. Sabia que Israel era um país desenvolvido mas pensei que era um país religioso, onde todos cuidam o Shabat, todos cumprem as mitzvot. Pensei que as pessoas falavam a língua do Tanach. Quando eu penso nisso agora entendo que pensei em Israel como um sonho. Algo dentro de uma nuvem. Não trouxe comigo nada da Etiópia. O que ficou foram as lembranças gravadas na memória.
“Quando pousamos em Israel, nos levaram para uma base militar. Não tinha idéia de onde estava. Apenas me lembro que vi soldados que nos deram água e comida. De lá nos levaram para o Centro de Absorção Caduri no norte, perto de Kfar Tavor. Vivíamos 7 pessoas num trailler. Não víamos nada além de campos e montanhas. Pensávamos que ainda não havíamos chegado a Israel, que estávamos em uma fronteira com outro país e Israel. Então começamos a perguntar a outras pessoas quando chegaríamos a Israel e quando nos disseram que já estávamos em Israel, foi um choque.
“O encontro com os soldados que nos trouxeram a Israel e que cuidaram de nós me fez ter vontade de ser oficial do exército. Sabia disso desde o dia que entrei no exército. Acreditava ser esta uma boa maneira de me integrar à sociedade. Acho que a boa vontade do sistema de me absorver era verdadeiro. Não era coisa de relações públicas. A maior emoção foi a cerimônia de encerramento do curso de oficiais. Meus pais vieram, meu irmão e minhas irmãs também, senti um orgulho muito grande. Passava pela minha cabeça naquele momento que eu tinha realizado um sonho. Disse para mim mesma: conquistei aquilo que eu queria, eu posso avançar adiante e nada pode deter-me.
“Acho que o lugar que mudei algo foi diante de candidatos ao serviço de segurança. Não há dúvida que ao vir uma oficial etíope e explica para candidatos etíopes sobre o exército isso dá a eles confiança. Eles pensam: eu também posso ser comandante do exército, o que nos dizem não é mentira. Nesta mesma época houve casos de soldados etíopes que se suicidaram. A motivação para servir ao exército estava baixa. Eu me lembro que rodavamos Israel explicando que não é como aparece nos jornais. Estes candidatos se incomodavam com a discriminação e expliquei que sim, havia discriminação mas isso em todas partes não apenas no exército. Se amanhã eu vou no médico e pensam que eu vim de uma selva, não quer dizer que nunca mais irei ao médico, não é?. Disse que nós precisávamos explicar, provar, lutar. Disse a eles que sei que há pessoas que pensam que etíope não pode ser oficial e precisamos mostrar que isso não é verdade. Precisa perguntar de onde vem o preconceito. Numa conversa de poucos minutos não se muda uma pessoa mas pode fazer com que pense duas vezes.
“Minha vocação é biologia e havia um dilema de o que devo estudar. Escolhi educação especial porque me sentia responsável pelas crianças etíopes. Preciso trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Nossa situação econômica pior, viemos para cá sem nada, não há economias e sei que devo cuidar de mim mesma pois ninguém fará isso por mim. Sei que é importante que eu tenha uma profissão em um dois anos. Eu confio em mim mesma e sei que sobreviverei”.
3. Doctor Bitau
(Fonte: Mossaf Haaretz, Haaretz, 11.05.2001)
Doctor tem 24 anos, entrou no exército em julho 1998 e hoje é comandante pela quarta vez do curso de comandantes da polícia de fronteira, depois de ter ganho título de excelência na Tironut (=três primeiros meses do exército).
A figura mais israelense para ele é Avraham Burg. Gosta de ver o noticiário do Canal 2 e de esporte. Não tem tempo para ler livros, lê a suplemento esportivo do jornal “Iediot” e faz as cruzadinhas do jornal “Maariv”.
“Doctor em amárico é doutor. Para nós quem tem a pele branca é doutor, tem título acadêmico. Quando eu nasci era claro e minha mãe me chamava de ‘doutor’. Depois um tio meu me fez um monte de perguntas e eu repeti tudo o que ele disse o que comprovou meu nome.
“Antes de fazer aliá pensava que Israel era Jerusalém, e que Jerusalém era um lugar perfeito, toda feita de ouro. Pensei que havia apenas judeus aqui e apenas “tzadikim” (=justos). Quando pousamos nos levaram para o hotel Diplomat em Jerusalém. De manhã me acordei com o Moazin (=reza árabe feita de uma torre em cada aldeia árabe). Não acreditava que havia chegado a Israel, pensava que estávamos ainda em alguma parada no meio do caminho. Apenas quando encontrei o meu avô que veio na Operação Moisés, entendi que havíamos realmente chegado em Jerusalém. Não fiquei decepcionado mas senti amargura, minhas expectativas eram enormes e de repente – bum.
“Com 15 anos meus pais se mudaram para Migdal Haemek e fui mandado para um internato religioso. Hoje não sou religioso, não é fácil ser religioso, mas sou feliz por haverem me mandado para lá. Estudei História de Israel, Torá, Judaísmo. Agora tenho uma ligação com o país onde eu vivo. Agradeço a Deus por ter me mandado para lá.
“Eu conheço a piada do etíope que chega ao céu. (“Você prefere o paraíso ou o inferno? Pergunta o anjo Gabriel. “O quê? Não tem polícia de fronteira?). Rir é bom, mas não me sinto assim. Eu gosto de lá. Não acho que faço o trabalho pesado para os outros, como dizem. Antes de entrar, queria ser Golani (=boina marron) mas não me deixaram pelo meu profil (=define o perfil físico do soldado, sendo o máximo 97, pois o brit milá baixa 3). Logo quando cheguei na Tironut me dei bem com o pessoal, acho que tudo depende de cada um. Se ele se dá com todo mundo então o recebem bem. Eu logo me aproximei do pessoal. Quando era menor me ofendia quando me chamavam de “kushi” (=negro) mas com o decorrer do tempo aprendi a não me ofender.
“Sou hoje comandante de 11 soldados, sendo um russo e outro etíope. Me policio para não dar um tratamento especial a ele, nunca falo com ele em amárico. Como comandante preso pela disciplina mas acho que sou legal, não sou duro demais. Os soldados não reclamam se o comandante os faz correr de um lado para o outro com a condição de que ele é justo e esteja pronto a escutá-los. Estou sempre disposto a escutar. Aprendi muito sendo comandante.
“Eu tinha um chanich no machzor passado, imigrante dos EUA. Ele não se dava com os outros soldados. Me identifiquei com ele e me liguei a ele. Disse a ele que também foi difícil para mim e que também não me dei com os outros rapidamente. Vi que ele era uma pessoa boa e que não gostava de falsidade mas ele era teimoso e o problema não se resolveu. No meio do curso ele teve que deixar, mas consegui pelo menos que ele ficasse conosco até meiados do curso.
“O meu maior sonho é fazer o curso de oficiais para que meus pais me vejam na cerimônia de encerramento. Às vezes penso que poderia abrir mão do posto no outro dia, só para que os meus pais me vejam na cerimônia e fiquem orgulhosos de mim. É tão importante para mim. O maior problema da juventude etíope é a relação com os pais. Eu me esforço para dar aos meus pais o maior respeito. Meu pai não trabalha, ele perdeu o seu trabalho tradicional e eu sei o quanto é difícil para ele. Eu sinto a dor pois na Etiópia a sua situação era melhor. Nunca farei algo que possa chateá-lo, não vou fumar, não sairei no Shabat, não farei penteado Afro pois é considerado coisa de marginais, não vou dizer a meu pai ‘não’, não sentarei ao seu lado no sofá.
“Hoje sou mais aberto com meu pai, sou adulto e comandante no exército. Quando falo com minha mãe sobre garotas, não escondo isso dele. Minha namorada também vem dormir na minha casa. Não é costume entre nós pois não somos noivos mas os tempos mudaram, isto é Israel.
“Seu nome é Tamar, a conheci no Bnei Hakiva, éramos amigos há muito tempo. Para mim ela é a mais linda do mundo. Às vezes vamos ao cinema ou para bares mas geralmente ficamos em casa com a família.
“Eu espero casar com ela. Eu quero o máximo de filhos possível mas só se eu puder sustentá-los da melhor maneira possível. Não quero ser nem rico nem pobre’ apenas viver bem. Quando eu tiver filhos quero que eles me tratem como filhos israelenses normais, não como etíopes apesar de que gostaria de ensinar-lhes a serem generosos e calmos, como os etíopes.
“O que eu mais gosto em Israel é a abertura. Em Israel se as pessoas brigam, depois de duas horas estão de bem de novo. Na Etiópia se guarda rancor durante anos. O que eu não gosto em Israel é a falta de respeito. Me irrita quando imitam meu sotaque. Como comandante eu quero ser perfeito, quero que meu sotaque seja o mais israelense possível e as imitações me irritam.
“Às vezes eu penso que eu perco algo na minha tentativa de ser israelense mas para ser aceito na sociedade é preciso ser prático, ser ‘cara-de-pau’, não se pode sem ‘cara-de-pau’, esta é a realidade, este é o preço e estou disposto a pagar este preço”.
4. David Habatau
(Fonte: Mossaf Haaretz, Haaretz, 11.05.2001)
David tem 18 anos, estuda Megamá de esportes no internato Hadassa. Ele é o mais velho de 3 irmãos. Sua mãe, dona-de-casa, mora em Natânia, seu pai voltou para a Etiópia. Ele é considerado um dos melhores corredores de 3.000 e 5.000 metros.
A figura mais israelense para ele é Ben Gurion. Seu programa de televisão preferido é “Lagat Baosher” (=novela israelense), lê o jornal “Yediot Achronot” e sob sua cabeceira está o livro de Dorit Ogdar sobre os imigrantes etíopes que lhe fez chorar.
“Há jovens etíopes que se afastam completamente do que é israelense. Têm a influência dos negros americanos e isso não é bom. Não entendo que orgulho sentem, não os levará para nenhum lugar. Eles se ligam aos EUA e se esquecem o que eles realmente são, antes de tudo são judeus.
“Eu começo a sentir-me mais israelense mas não me esqueço das minhas raízes. Eu escuto música em amárico. Eu compro estas fitas na estação rodoviária de Natânia. Eu gosto de Bassango, música acompanhada por um instrumento parecido com um violão. Também gosto de Ascasta, músicas com ritmo que dá para dançar. O que chega na rodoviária é o que se escuta na Etiópia. Às vezes nas sextas-feira eu vejo o noticiário em amárico, é bom pois mostra um retrato de como estão os imigrantes. Às vezes também escuto a rádio em amárico. A minha cabelereira é da Rússia eo salão fica perto de casa mas estou pensando em fazer um penteado Afro. Meu cabelo está horrível.
“Viemos de uma aldeia perto de Gondar. Tivemos problemas na família pois meus tios por parte de pai não queriam que deixássemos a Etiópia. Nós ajudávamos com o rebanho. Meu pai também queria ficar mas no fim minha mãe conseguiu convencê-lo de partir. Não sei como. Depois de um ano e meio meu pai já voltava para a Etiópia. Ele tinha uma boa vida lá, tem filhos de outra mulher. Falo com ele pelo telefone apenas uma vez ao ano. A ligação simplesmente foi cortada. Me acostumei à vida sem pai. Gostaria de ir a Etiópia para visitá-lo, realmente gostaria mas não é possível agora.
“Aos 14 anos me mandaram a um internato religioso em Talpiot. Me disseram, tem um chug de corrida, quem quiser participar que venha para as provas de tarde. Fui e descobriram que eu tinha vocação. Não sei de onde, simplesmente o tenho. O treinador me pediu para que eu viesse sempre. Passei ao internato Hadassa depois de um ano para estudar na Megamá de esportes. Fui com alguns amigos também etíopes. Estes são hoje meus melhores amigos. Sou amigo de todos mas estes são meus amigos confidentes.
“ A vida no internato é até boa. Às vezes tenho saudade de casa mas o bom é que estou com o pessoal e recebo a ajuda que não receberia em casa. No quarto somos 5 etíopes e um russo. Se chama Vitali. Ele pediu para ficar conosco no quarto para poder aprender hebraico pois no quarto dos russos só se fala russo. Estando conosco só fala hebraico. Quando ele não está no quarto às vezes falamos amárico. Não temos problema de diferenças de mentalidade. Antes de tudo somos desportistas.
“Eu quero chegar ainda muito longe no atletismo, ir para campeonatos mundiais e para a Olimpíada. Ainda não cheguei no meu máximo mas espero chegar lá. Há um problema em Israel para que cheguemos no nosso melhor e não é pelo fato de sermos etíopes e sim pela relação em geral para com o atletismo. Se não no esporte, quero me destacar em outra área. Gostaria de ser advogado ou qualquer outra profissão acadêmica. Não sinto que nada pode me deter.
“Uma vez fui a um bar novo que abriu em Natânia com um amigo israelense e outros dois etíopes. Era um bar de israelenses. Eu me lembro que nos puxaram, os etíopes, para o lado e nos verificaram mas nosso amigo israelense não. Nos aconselharam não causar problemas lá dentro. Nos sentimos mal. Não reclamamos mas perguntamos aos seguranças por que faziam isso? Só por que eles eram etíopes? Eles responderam que nos bares de etíopes tem confusões e eles tinham medo. E isso é certo. Realmente nos bares de etíopes têm briga.
“Gostaria de no exército servir no ‘Duvdevan’ (=em hebraico, cereja e é uma unidade de operações especiais). Escutei muitas coisas boas sobre esta unidade. O que me preocupa são os suicídios. Quando penso nisso acho que os soldados etíopes se suicidaram por causa do racismo. Coisas como “kushim” (=negros) e coisas do estilo. Isto realmente me preocupa. Acho que vai dar tudo certo comigo mas isto me preocupa.
“Eu, Graças a Deus, respeito minha mãe. Nossa relação ficou igual como era na Etiópia, aquilo que ela diz, eu faço. Quando estou em casa sou um etíope. Não direi a minha mãe nada que possa machucá-la, Deus me livre. Se eu quiser sair de noite e ela disser não, eu fico em casa. Ela me vê como um adulto e não me diz não.
“Tenho uma namorada etíope. Nos conhecemos há 6 meses no casamento de um parente. Ela tem 17 anos. Minha relação com o sexo oposto é laica. Não recebi a permissão da minha namorada então não falarei sobre ela. Nós passeamos muito juntos nos fins de semana. Eu não penso em casamento. Eu quero dois ou três filhos no máximo, quero tudo de bom para meus filhos, quero para eles tudo o que eu não tive”.
5. Shlomo Ileahu
(Fonte: Mossaf Haaretz, Haaretz, 11.05.2001)
Shlomo completa 10 anos no dia 24/05. Ele nasceu no avião, a caminho de Israel, um dos 8 partos da Operação Salomão. Estuda no colégio religioso de sua cidade, Rishon Letzion. Ele tem 7 irmãos. Sua mãe Danka é dona-de-casa. Seu pai faleceu no ano passado de câncer.
A figura mais israelense ao seu ver é Ariel Sharon. Seu programa preferido é Pokemon e jogos de futebol. O último livro que leu foi o álbum histórico ‘Não em uma bandeja de prata” e quando crescer lerá o jornal “Yediot”.
A mãe de Shlomo: “Eu me lembro como as crianças subiam nas árvores em Adis Abeba antes da Operação e cantavam músicas sobre Jerusalém e sobre Eretz Israel. Sabíamos que esta é a Terra Santa, que há apenas judeus e que a comida desce dos céus em quantidade, leite e mel.
“Na sexta-feira, pouco antes de subir no avião, enquanto fazia os preprarativos para o Shabat, comecei a não me sentir bem. Queria voltar para casa pois nossos vizinhos católicos nos propuseram comprar nossos objetos antes de irmos, mas me sentia tão mal que não o fiz. No avião vomitei e vomitei. Não me lembro nada do parto. Como é que tantas mulheres deram a luz no avião? Talvez de tanta emoção, mas eu dei a luz no tempo certo.
“Eu não sei hebraico muito bem e nas reuniões de pais de Shlomo e Avraham, 8 anos vou com minha filha Tikonesh, 16 anos, que me ajuda. Para a reunião de pais de Tikonesh, vou com um dos meus filhos casados. Não muito agradável mas não é a coisa mais terrível do mundo. Estou feliz de havermos feito aliá, tudo é bom e lindo. Na Etiópia as crianças tinham que ir andando dois dias para a escola e alguém poderia machucá-los. Aqui é tudo perto, aqui não precisamos nos preocupar com nada, sei que as crianças estão seguras. É uma pena que meu marido não pode ver isso.
A irmã de Shlomo, Tikonesh: “Eu sou a mais velha da casa, agora e estou feliz de ter esta função. Me dá responsabilidade apesar de que às vezes me irrita. Eu não gosto de ir com minha mãe para as reuniões. Eu gostava de quando ela era a responsável por tudo. Mas eu faço”.
Shlomo: “Eu conto às vezes para os meus amigos que eu nasci em um avião. Isso me faz ser um pouquinho especial, mas geralmente eles dizem que esta história não interessa.
“O que eu mais gosto em Israel são os jogos de computador. Eu gosto de pessoas voando e com armas. Eu gosto de música israelense e americana, principalmente Raper. No colégio eu gosto de matemática e Torá. Em matemática, gosto de estudar multiplicação e em Torá o livro “Êxodus”.
“Eu gosto de jogar futebol e torço pelo Macabi Haifa. Já torci pelo Beitar mas Avraham me convenceu a torcer pelo Macabi. Quando os vejo na televisão eu grito “o verde sobe!!!”. (…) Quando eu crescer eu quero ser jogador de futebol e cantor.
“O que eu não gosto em Israel é a guerra. Se eu morasse na beira do Rio Jordão seria ainda mais amedrontador. Tenho medo que a guerra me mate. Quando eu crescer não quero servir o exército. Eu não quero morrer”.
6. Kassa Samu
(Fonte: Jornal Interno “Maraá” do Centro de Absorção de Mevasseret Tzion)
Mora a 2 anos no Centro de Absorção de Mevasseret Tzion
“Meus pais tinham um sonho de ver Israel, eles rezavam para chegar a Jerusalém. Eles morreram mas em nome deles continuamos mantendo as tradições e a ligação com o Judaísmo.
Entrevistadora: Por que demorou tanto para que os judeus de Kuara fizessem aliá?
Kassa: Por causa da distância e da falta de comunicação. Não havia contato com o resto dos judeus na Etiópia e a notícia chegou tarde.
E: O que você pensava sobre Israel?
Kassa: “Eretz Zavat Chalav Udvash”, sonhei com Jerusalém.
E: Como é a vida no Centro de Absorção?
Kassa: O Governo de Israel cuidou de nós da melhor maneira, em especial com sua preocupação com os jovens e os velhos. Os trabalhadores (=aqueles que cuidam dos temas de absorção) nos explicaram tudo como se mostrassem o caminho a um cego. Entre os trabalhadores etíopes e nós existe um bom entendimento. Hoje também os trabalhadores israelenses nos conhecem bem e nem sempre o idioma é um obstáculo.
E: Quais são os medos na mudança para um novo lugar?
Kassa: Me faz lembrar quando parti antes. Eu quero conhecer novas pessoas. Eu desejo paz para Israel, que exista o amor entre todos e a reunificação de nossas famílias.
PARTE III: O LONGO PROCESSO DE ABSORÇÃO EM ISRAEL
1. INTRODUÇÃO
Como sabemos, a absorção em um lugar novo não é fácil. Um novo país, um novo povo, uma nova sociedade, uma nova língua, uma nova paisagem, um novo modo de vida. Novas regras, novos direitos e novos deveres. Fácil não é. Mas é possível e Israel demonstra, lado a lado com os problemas existentes, sucessos na absorção de diferentes grupos e etnias que aqui chegaram.
A “lei do Retorno” permite a volta dos judeus ao seu país e deste momento em diante começa o processo de absorção em Israel. No caso dos judeus etíopes, a absorção pode ser vista como um longo processo. Primeiramente porque se trata de diferentes operações pelas quais chegaram estes judeus a Israel: operações Moisés, Rainha de Sabá, Yoshua, Salomão sem falar em outras diferentes ondas imigratórias, como por exemplo a atual onda.
O processo continua e passa por diversas estações: do aeroporto para uma moradia provisória que durante muito tempo eram em traillers. Atualmente falamos de uma absorção diretamente para os centros de absorção. A próxima conquista é o que denominamos “Diur Kevah”, ou seja, uma moradia fixa. A obtenção desta é fruto da ajuda do governo bem como das assistentes sociais e encarregados do Ministério de Absorção. Em geral, os judeus etíopes decidem por viver em suas próprias comunidades, formando novamente, mesmo dentro de cidades, uma forma de vida familiar/tribal.
E aí, o novo e difícil passo no processo de absorção: a absorção na sociedade israelense. Desafios como o aprendizado da língua, a formação profissional e a obtenção de emprego se somam ao choque cultural dos imigrantes e à mudança na hierarquia familiar bem definida que tinham na Etiópia a qual em Israel se tranforma e todos estes elementos juntos criam um retrato difícil de absorção desta etnia.
Nesta apostila tentaremos, através de textos e dados, trazer uma pequena mostra dos sucessos e das dificuldades deste processo.
2. ISRAEL ABSORVENDO ALIÁ
Ministério de Absorção de Aliá – Absorção de Aliá 1989-2000 Abril, 2001
(Fonte: www.moia.gov.il/ivrit/statistika/statist/matz2000 – 28.11.01)
Introdução
A integração dos imigrantes na sociedade israelense é um desafio social e econômico muito grande que se encontra diante do Governo de Israel. O grau de seu sucesso influenciará a sociedade como um todo.
Um milhão de imigrantes que chegou em Israel na última década é um dos fatores centrais do crescimento do país.
Engenheiros, Acadêmicos, milhares de cientistas e artistas são uma “riqueza humana” preparado, profissional e valioso para o avanço do país, da ciência, da tecnologia e da cultura em Israel.
É com grande importância que o Ministério vê o aprofundamento da consciência da absorção na sociedade israelense, sendo “kavod” (=respeito) a palavra-chave: respeito ao imigrante, à sua identidade, à sua herança cultural. Este lado humano conduz à integração do imigrante à sociedade, além de incetivar a aliá. A última década nos ensina uma lição: é necessário investir de forma direta nos imigrantes e que cada grupo de imigrantes se depara com seus próprios obstáculos na absorção e temos que dar uma resposta particular, às vezes, até mesmo em marcos separados.
O tratamento de qualidade e a análise particular de cada grupo de imigrantes formam a linha de ação destes 11 anos de absorção de aliá.
Absorção de Aliá entre os anos 1989-2000
535.000 famílias de imigrantes
1.042.720 imigrantes
§ 4.5% de outras partes da África (47.120)
§ 3.4% da Europa Ocidental (35.100)
§ 2.6% da América do Norte (26330)
§ 1.8% da América do Sul (19.150)
§ 1.3% de outras partes da Europa Oriental (13.860)
§ 0.8% de outras partes da Ásia (8.630)
§ 0.3% dos países árabes (3.550)
§ 0.2% do Norte da África (1.730)
§ 0.1% da Oceania (1.400)
§ 297.370 da Rússia
§ 285.737 da Ucrânia
§ 166.329 das Repúblicas Asiáticas
§ 68.466 da “Rússia Branca”
§ 47.332 da Moldóvia
§ 43.320 da Etíopia
§ 26.330 dos EUA e Canadá
§ 20.616 das Repúblicas dos Balcões
§ 19.300 da França
§ 12.600 da Argentina
§ 6.450 da Grã Bretanha
§ 4.400 do Irã
§ 1.540 do Marrocos
§ 1.130 do México
§ 650 do Iemen
§ 186 da Tunísia
A imigração etíope
Ano(s)
Operação
Número de Imigrantes
1980-1983
3.731
1984
Operação Moisés
7.992
1985-1990
8.190
1991
Operação Salomão (14.162)
20.453
1992-1997
14.402
1998
Imigrantes Falashmura
3.505
1999
Imigrantes Quara
2.173
2000
2.241
Total
62.287
4. O APOIO AOS IMIGRANTES – YULI (YAEL) TAMIR
(Fonte: Caderno Cultural, Wizo – Trad. Nancy Rozenchan)
(Yuli Tamir é Ministra de Absorção e Imigração de Israel desde 1999. Foi professora do Departamento de Filosofia da Universidade de Tel Aviv e professora convidada de universidades de diversos países)
Imigração não é algo fácil. Toda pessoa forte, disposta e aberta a quaisquer modificações que sejam, está ligada à sua língua e à sua cultura; o desligamento delas pode ser comparado à perda de um ente próximo.
Israel é um país que absorve imigração. Durante anos chegaram a Israel imigrantes de lugares diversos e cada grupo imprimiu a sua marca na sociedade israelense. Cada leva imigratória trouxe consigo novos hábitos, línguas e uma nova face ao Estado de Israel que se cristalizava. Cada uma destas levas também arrastava consigo novas crises e grandes dores, algumas, transitórias, e outras que continuam a nos marcar até hoje.
A imigração dos judeus da Etiópia sensibilizou todos os cidadãos do país. As fotos daqueles judeus carregando às costas seus parcos pertences e suas crianças frágeis penetraram nos corações de todos nós. O Estado de Israel prendeu a respiração diante da extraordinária força de vontade que os judeus da Etiópia demonstraram a fim de chegar ao país, ante as agruras do caminho, que mais do que uma vez, se encerraram em tragédias humanas pungentes. Pareceu-nos que cada um de nós se ergueria para fazer algo por aqueles imigrantes, que cada cidadão do país contribuiria, e não com pouco, para a absorção deles no país. Pareceu que a absorção deles, apesar das diferenças e diversidades entre Etiópia e Israel, seria relativamente fácil e suave.
A realidade mostrou-se diferente. Na verdade, muitas pessoas se engajaram na ajuda dos imigrantes e o Estado também contribuiu com a sua parcela e, apesar de tudo isto, averiguou-se que as diferenças entre a realidade da qual provinham os imigrantes e a realidade isralense são grandes e inúmeras. Estas diversidades se expressam em muitos âmbitos: fontes de emprego, hierarquia familiar, posição das mulheres na sociedade, etc. A estas somou-se o problema da língua e do aprendizado do hebraico, cujo desconhecimento dificulta a obtenção de emprego.
A comunidade etíope enfrenta atualmente dois problemas básicos: habitação e desemprego. Os trailers em que os imigrantes vivem não proporcionam pretígio ao país. Meu primeiro objetivo como Ministra da Absorção, foi o de eliminar este tipo de moradia. Vejo na transferência para uma moradia estável e fixa um dos principais objetivos de minha função.
Há dois meses solicitei uma reunião do gabinete econômico, associado a mim, na questão dos imigrantes da Etiópia. Obtive um relatório detalhado para ser analisado pelos ministros, um relatório duro, cujos dados levam a revelações difíceis. Com o apoio integral do Primeiro Ministro e do Ministro das Finanças, apresentamos uma proposta deliberativa que inclui a criação de uma equipe inter-ministerial, sob minha direção,a fim de agilizar o tratamento dos membros desta etnia e de alocar os recursos para isto.
Foi também decidido estabelecer, nas comunidades fixas, diretórios de bairros que serão financiados pelo Ministério das Finanças em coordenação com o Ministério da Absorção e Imigração. Nos bairros em que mais do que 30% da população é constituída por imigrantes provenientes da Etiópia, será instituída um alei de educação gratuita para crianças de três e quatro anos e horário escolar prolongado.
A prioridade de assistência aos membros da etnia e de atividades adicionais, que moderarão as tensões sociais entre habitantes antigos e imigrantes, são uma prova de honra para a sociedade israelense e o sucesso será o sucesso de todos nós.
Da mesma forma, além das atividades de apoio à comunidade, vejo necessidade de registrar para a posterioridade o sofrimento e a dor que esta etnia sofreu em sua vinda a Israel. A coragem e o preço alto merecem ser registrados em um monumento à altura disto, que seja também um ponto de encontro anual dos que querem se associar à memória dos entes queridos. Prometo à comunidade que será encontrada uma solução adequada e honrosa para a questão do monumento. Nós, em combinação com os chefes e líderes da etnia, já iniciamos a procura de um lugar adequado para a sua construção e imaginamos que brevemente chegaremos a uma decisão, que atenderá o desejo de respeitar a memória dos que se foram e também os que vivem em Israel.
Estamos conscientes que existem ainda muitos que desejam imigrar para Israel, que se encontram em acampamentos transitóriso em Adis e em Gunda, em condições intoleráveis. Solicitei ao Ministro do Interior, Sr. Natan Sharansky, que envie imediatamente uma equipe à Etiópia para decidir quem tem direito ou não de imigrar a Israel. É-nos proibido, como país, cultivar ilusões entre aqueles que de todo modo não poderão imigrar e, por outro lado, aqueles que têm este direito devem chegar tão depressa quanto possível.
Sei que o processo de absorção é doloroso e nada fácil, porém creio que os membros da etnia podem e são capazes de se integrar na sociedade israelense com muito sucesso. Quando vejo os jovens etíopes alistando-se no Exército de Israel e estudando nas universidades, sei que na comunidade etíope brotou uma geração nova de pessoas maravilhosas das quais o Estado de Israel deve se orgulhar. Estes jovens são a prova de que com investimento correto e sensibilidade é possível se sobrepor a todas as dificuldades, chegar a posições-chave e integração máxima. Sei que o governo de Israel vê na absorção e integração dos imigrantes da Etiópia um objetivo central e importante. O Ministério da Absorção e eu, como a pessoa que está à sua testa, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance a fim de atingir os objetivos a que nos propusemos para o ano 2000.
Espero e creio que eu e a equipe do Ministério possamos, em todos os momentos, ser um ombro de apoio e um braço e mão estendidos para os imigrantes.
5. A ATUAL SITUAÇÃO DOS JUDEUS ETÍOPES EM ISRAEL
(Fonte: The Israel Association for Ethiopian Jews (IAEJ) http://www.us-israel.org/jsource/Judaism/ejdesc/html – 08.01.02)
Status Econômico e Social
A maioria da comunidade etíope vive abaixo da linha de pobreza definida pelo governo de Israel. As pessoas não passam fome, apesar de que crianças etíopes chegam à escola sem ter tomado café da manhã e nas escolas que oferecem almoço, as crianças estão contentes de receber qualquer simples almoço que lhes é dado.
Muitas das famílias com crianças pequenas são encabeçadas por homens desempregados, em seus 50 ou 60 anos (a idade avançada dos pais é atribuída à comum prática dos homens se casarem com mulheres de 20-30 anos mais novas que eles). Somado ao alto índice de mães solteiras (as quais tampouco podem trabalhar), chegamos ao fato de que uma alta porcentagem das famílias etíopes são encabeçadas por alguém que não é independente financeiramente. Mesmo aqueles que trabalham, têm dificuldade de manter suas famílias com seu salário mínimo de $650-$900 por mês.
A geração mais velha passa a maior parte de seu tempo viajando pelo país, entre casamentos e funerais, na tentativa de manter os costumes sociais e familiares da Etiópia. (uma família etíope tradicional consiste de 500-1200 membros e todos devem se conhecer na família). Um membro da velha geração o qual viveu sua vida adulta na Etiópia é julgado pelos seus parentes não pelo duro que trabalha ou por sua ambições mas sim pela atenção e seriedade para com suas obrigações sociais. Os fatores culturais também influenciam na prioridade que é dada a distintos elementos na educação das crianças, que é passada para as mãos e tratamento do governo. Mesmo querendo interferir na educação de seus filhos, sua limitada abilidade de falar hebraico ou mesmo ler e escrever em sua própria língua os limita.
Inúmeras famílias vivem em bairros pobres em concentrações etíopes. Esta situação é resultado de diferentes programas governamentais que tinham como objetivo tirar os etíopes dos traillers onde viviam. Estes programas especificaram que os mesmos podiam adquirir apartamentos no centro do país mas apenas cederam financiamento para comprar nos bairros pobres. O pior aspecto desta situação sobre o qual escutamos cada vez mais é a de crianças que andam pelas ruas, shoppings e casas lotéricas até altas horas da noite. Eles faltam aula para isso ou simplesmente vão depois da aula. Estas crianças começam a roubar. Os pais não têm muito controle sobre isso pois têm muitos filhos, apartamentos pequenos e a sensação de que já não sabem mais como disciplinar seus filhos, principalmente porque seus filhos sabem muito pouco o idioma etíope, amárico e falam o hebraico da rua.
A delinqüência juvenil cresce até entre as crianças pequenas de 8-9 anos. Um programa feito em Beer Sheva tenta ajudar crianças da escola primária e secundária que ficam nos shoppings até altas horas, falta aula de modo quase regular e se envolvem em pequenos roubos. O relatos deste programa demonstram que esta realidade envolve 300 crianças menores de 14 anos somente em Beer Sheva. Existem outras gangues etíopes em outras cidades onde existe um concentração de imigrantes com Rehovot, Rishon Letzion, Netânia, Beer Sheva, Hadera, etc., bem como em Tel Aviv. Nos bairros com grande concentração de imigrantes etíopes, criminosos isralenses recrutam jovens etíopes para atividades criminais e venda de drogas.
Educação
Educação é o único caminho para melhorar a situação econômica e social dos judeus etíopes. Estudantes etíopes se deparam com inúmeros obstáculos no sistema educacional israelense e como resultado vemos o aumento do número de etíopes que largam os estudos escolares. Isto perpetua o ciclo de pobreza.
A grande maioria das crianças etíopes não freqüentam nenhum jardim de infância ou pré-escolar até a idade de 4 anos, a maioria por razões econômicas. A maioria das mães não trabalham e não podem pagar, já que manter uma criança num programa deste custa por mês ao redor de $350 e se há duas crianças menores de 4 anos o custo chega a ser igual ao salário mensal familiar. Além de não poderem mandar seus filhos ao pré-escolar, as famílias não sabem ensinar a seus aquilo que deveriam aprender no pré-escolar. Cerca de 1.500 das 6.000 famílias com crianças de idade pré-escolar recebem uma orientação semanal sobre como podem estimular suas crianças intelectualmente e verbalmente mas está longe de ser isto suficiente. Os estudiosos afirmam ser a idade de 0-4 anos crucial em termos de aprendizado, principalmente quando se tratam de crianças provenientes de famílias analfabetas e que não dominam o hebraico.
Nas escolas primárias, a história continua sendo a mesma. As crianças continuam concentradas em escolas fracas com 20%-35% de alunos etíopes. O resto dos alunos são provenientes do Norte da África e de imigrantes da Europa Oriental. O maior problema é o alfabetização. Baseado em testes, uma grande porcentagem de crianças não aprendem a ler e por isso o alto índice de abandono dos estudos. Este ano, um programa especial e experimental de alfabetização foi desenvolvido pelo Centro de Estudo Diferencial de Tel Aviv, usando um método que divide o processo de aprendizagem da leitura em partes. O segredo do método é o foco e o teste feito com cada criança individualmente com o claro objetivo de criar a responsabilidade que toda criança tem que aprender a ler. Está dando certo, de modo milagroso. Apenas um dentre vinte estudantes da secundária aprenderam a ler antes do início do programa. Em poucos meses, todos os estudantes do programa aprenderam a ler fluentemente.
Os mesmos problemas existem em outras duas matérias: matemática e inglês. A maioria das crianças não recebem a atenção que necessitam. Como demonstra um estudo feito pela JDC Brookdale, as 9 escolas com alta concentração de etíopes podemos ver uma grande diferença entre as notas dos etíopes e dos israelenses nativos em todas as matérias importantes. Em outro estudo recente em 6 escolas, 50% das crianças da Operação Salomão e 48% das crianças cujas famílias chegaram há 12 anos na Operação Moisés ou antes (quer dizer, provavelmente nasceram em Israel) são considerados pelos professores como abaixo do nível da classe em compreensão de textos. Comparando, 23% dos israelenses nativos, crianças não-etíopes são assim consideradas por seus professores. Em matemática, 56% das crianças da Operação Salomão e 51% da Operação Moisés são considerados como abaixo do nível da classe, ao contrário dos 21% das crianças israelenses nativas.
Outro grave problema é que os professores subestimam os estudantes. Uma matéria do jornal israelense “Haaretz” demonstra um estudo feito pelo JDC Brookdale em algumas escolas professores costumam subestimar as notas que as crianças etíopes receberão na prova em 20 pontos percentuais. A real nota dos alunos etíopes é apenas 10% abaixo do resto das crianças enquanto a estimativa dos professores é de que será de 30%. Este é um indicador da maneira como o sistema vê os etíopes, constantemente subestimando suas capacidades.
A escassez de material escolar incluindo livros persiste. Os professores afirmam que apenas 58% dos novos imigrantes etíopes chegam à escola com o material necessário todos os dias. As crianças da Operação Moisés as quais já não recebem subsídio para a compra de material escolar 54% chegam preparadas à escola.
Ainda mais gritante são as estatísticas em relação aos deveres de casa. Os professores afirmam que apenas 41% das crianças etíopes preparam dever de casa regularmente enquanto 71% dos isralenses nativos o fazem. Muitas são as razões para o fenômeno dentre eles podemos citar a escassez de material escolar, más condições de moradia, falta de conhecimentos básicos.
Parte do problema da educação primária vem do fato de cerca de 80% das crianças menores se encontram em escolas religiosas que são menores e mais fracas que as outras (principalmente nas áreas onde os etíopes vivem). De acordo com dados oficiais do Ministério de Educação isto ocorre porque as escolas não-religiosas não querem alunos etíopes, fazem poucos esforços para recrutá-los e até mesmo dificultam seu ingresso em suas escolas. Um educação religiosa é importante para os pais mas o problema é que se tratam de escolas fracas e com grande concentração de etíopes.
Estes problemas continuam na educação secundária onde a segregação é ainda mais marcada pelo fato de duas ou três escolas religiosas com grande concentração de etíopes entram em uma única escola secundária. Com a divisão entre alunos “rápidos” e “lentos” (baseada em geral em matemática, ciências e inglês), os etíopes entram em geral nas salas mais lentas. Apesar do fato poder ser justificado, um curso intensivo no verão de três meses de inglês ou matemática pode facilmente ajudar a aumentar seu nível nestas matérias. Este tipo de curso se realiza mas em pequena escala.
A maioria dos jovens etíopes estudam em sistema de internato. Apesar deste sistema ter um lugar de louvor na educação de centenas de imigrantes, o nível destes internatos é baixo. A maioria dos internatos oferecem apenas treinamento vocacional e a maioria dos alunos são provém de um lugar de disvantagem. Além disso, os jovens que aí estudam ficam separados de suas famílias, questionando assim as responsabilidades tradicionais da famílias de disciplinar e educar os filhos, transmitindo-as ao internato. Quando IAEJ (The Israel Association for Ethiopian Jews) começou sua campanha educacional, 90% dos estudantes etíopes estudavam neste tipo de escolas. Este número baixou para 70% e esta porcentagem continua diminuindo.
Além disso, alguns internatos incluíram aulas de “bagrut”. Sendo assim um maior número de etíopes terminam os seus estudos com certificado de “bagrut” o qual é a chave para os estudos acadêmicos nas universidades. Apesar destas melhorias, os internatos ainda são um problema.
A porcentagem de etíopes que recebem certificado de “bagrut” é baixíssima. Quando inicio-se o programa educacional saltou de 3% a 12%. O Ministério de Educação fala de 22%. Este índice não leva em consideração o abandono escolar que está na marca dos 45% ou mais. A porcentagem do resto da população é 43%.
Atualmente há 700 estudantes, tanto antes quanto depois do exército, participando dos programas preparatórios que permitem aos estudantes receber certificado equivalente ao da “bagrut”. O problema básico é que mesmo depois do curso preparatório a maioria dos estudantes ainda tem nota tão baixa em diferentes matérias como inglês que não podem entrar nem na Universidade nem tampouco receber tal certificado. Hoje 400 jovens etíopes em Colleges e Universidade. A maioria estuda profissões como trabalho social, educação, alguns em Direito, duas estudantes de medicina, alguns engenheiros e cerca de 50 homens e mulheres estudando enfermaria.
O abandono escolar é um problema sério dentre os etíopes. As estatísticas apresentadas no jornal isralense “Haaretz” do dia 17 de junho de 1997 estimam entre 1.800 e 2.000 de jovens etíopes que abandonaram a escola. Este número representa 15% da população de estudantes. Em algumas comunidades no científico apenas estudam um ou dois garotos etíopes enquanto 15-16 garotas, o que demonstra que o abandono escolar acontece com maior intensidade dentre o sexo masculino.
Conclusão
Apesar do entusiasmo diante da heróica chegada dos judeus etíopes, a situação permanece difícil e demanda nossa atenção para assegurar que a absorção etíope seja um sucesso. O foco deve estar na educação que pode atuar na prevenção de problemas que apenas se formarão no futuro. Esta é a hora de abrir oportunidades e melhorar esta situação antes que percamos o controle dela.
OS JUDEUS ETÍOPES POR DIFERENTES ESCRITORES
1. INTRODUÇÃO
Nesta apostila apresentaremos o tema “judeus etíopes” de acordo com diversos escritores, distintas fontes. Apontamos junto a cada um o nome do escritor e a fonte de onde foi retirada. É importante assinalar que a responsabilidade do aqui escrito é do escritor e da fonte e não obrigatoriamente reflete a nossa opinião e/ou a nossa visão. A importância está na possibilidade de estudar o mesmo tema de acrodo com diferentes pontos de vista e ampliar desta maneira nosso conhecimento sobre o assunto.
Mais do que respostas, abrimos aqui uma série de perguntas e um convite a nossa pesquisa e formação intelectual.
2. OS IMIGRANTES ETÍOPES
(Fonte: www.wzo.org.il/hagshama)
Os novos israelenses
Por SÉRGIO ROTBART
Os iIigrantes que chegaram da Etiópia a Israel, conhecidos como "falashas" ou "Beita Israel", constituem quase a imagem especular oposta aos imigrantes que chegaram da União Soviética e da Confederação dos Estados Independentes desde o ponto de vista de suas características sociais e sua posição social. Se trata de um grupo relativamente pequeno, composto por, aproximadamente somente 60 mil membros, mas se sobressaem muito pelas diferenças primordiais entre este e o resto da população e por suas poucas habilidades de trabalho e o escasso capital humano (desde o ponto de vista das exigências do mercado de trabalho israelense) que trouxe consigo.
Os etíopes foram trazidos a Israel em duas "operações" dramáticas e "secretas": a Operação Moisés e a Operação Salomão. Antes da Operação Moisés chegaram de forma esporádica e não organizada, principalmente a partir de 1977, por volta de 6 mil imigrantes etíopes. Até então imigraram à Israel desde os anos 50 cerca de 300 pessoas. No marco da Operação Moisés (1984-85) foram trazidos via Sudão por volta de 7 mil pessoas, e entre ambas operações chegaram à Israel cerca de outros 11 mil. No marco da Operação Salomão (em maio de 1991, fins da guerra civil na Etiópia) foram trazidos 14.300 imigrantes etíopes, e até o fim de 1996 se agregaram outros 10 mil. A estas cifras é necessário agregar cerca de outros 12 mil que nasceram em Israel durante o percorrer do tempo.
A chegada destes novos israelenses a Israel, denominados hoje em dia "judeus etíopes", com pele de cor negra, constitue uma renovação e outro passo no processo de pluralização da sociedade israelense. Sua aparição como categoria social (não apenas como indivíduos) converte Israel em uma sociedade ainda mais multi-facética do ponto de vista étnico e nacional, e introduz uma nova variável social, junto com um novo tipo de limite social: o limite da raça. O reconhecimento dos falashas como judeus não foi sub-entendido e, apesar de duas sentenças haláchicas fundamentais reconhecerem seu judaísmo, foram obrigados a passar a cerimônia de conversão, e em matéria de matrimônio estão a cargo das sentenças de rabinos ortodoxos reconhecidos como "experts" e autorizados a sentenciar nestes assuntos, enquanto que as autoridades religiosas dos etíopes (chamadas keisim) não são reconhecidas para celebrar matrimônios, divórcios e enterros.
Segundo a Lei do Retorno, os falashas foram definidos como judeus (segundo uma comissão interministerial de 1975), mas o judaísmo de cada indivíduo é questionável "porque de acordo com o rabinato existem dúvidas sobre a mistura de uma minoria de extrangeiros nesta tribo judia". No princípio se exigiu dos imigrantes etíopes uma estrita conversão. Parte dos que chegaram na primeira onda aceitaram todas as condições severas do rabinato israelense, principalmente por medo que a oposição de sua parte atrasasse a reunificação de famílias (grande parte deles deixaram familiares na Etiópia: esposos, esposas, filhos, pais e mães). Outros (provenientes da zona de Gundar) se opuseram à exigência religiosa e consideraram a exigência da conversão como uma mostra de humilhação e racismo. Esta atitude levou os imigrantes etíopes a uma situação de conflito direto com o rabinato de Israel, uma protesta pública e uma greve que durou mais de um mês (em outubro de 1985), além de um estouro maior em janeiro de 1996. Diante do estridente protesto de 1985, o rabinato se viu obrigado a retroceder, mesmo que pouco, e decidiu reconhecer a circuncisão etíope, além do acordo de autorizar a um notário matrimonial nacional que revise individualmente cada caso de registro matrimonial entre os etíopes. Em 1988 David Shalosh, conhecido como autoridade bem como por suas idéias liberais, foi designado para o cargo de notário, mas os etíopes não viram neste passo uma solução à sua condição e sua identidade como judeus, companheiros de rota com igualdade de direitos e qualidade de vida na sociedade israelense.
O CONTEXTO HISTÓRICO
Certamente o historiador britânico Eric Hobsbawm afirmaria que o caso dos falashas é um caso típico do que ele chamou "invenção da tradição" e da identidade. Se bem que essa invenção está baseada em núcleos existentes, ela expressa o encontro entre unidades étnicas e religiosas na Etiopía e os interesses e as ideologias de grupos veteranos na sociedade israelense. O grupo social que pressionou em favor do reconhecimento do judaísmo (condicionado) de "Beita Israel", e da vigência da Lei do Retorno em seu caso, estava composto por ativistas e rabinos da ortodoxia e do movimento religioso nacional, apesar que paradoxicamente também sua discriminação baseada nas "dúvidas sobre seu judaísmo" se originou de establishment rabínico. Sempre houve no judaísmo, parcialmente vinculadas com movimentos escatológicos, tendências quase-místicas e tradições de "descobrimento das tribos perdidas". Os falashas foram vistos como possuidores de uma identidade judaica firme, apesar de que suas práticas religiosas foram vistas como anacrônicas e inocentes -mas autênticas- devido a sua prolongada desvinculação das correntes centrais (principalmente européias) do judaísmo rabínico, ou do judaísmo da Mishná e do Talmud.
Se soma a tudo isto a concepção das necessidades instrumentais-demográficas tanto no marco inter-judaico em Israel como no marco judaico-árabe/palestino. O translado dos falashas à Israel, principalmente para os lobbies judeu-norteamericanos que pressionaram a favor de sua concretização, constitue uma demonstração eterna contra o argumento de que o judaísmo é uma raça e, alternativamente, que o sionismo é racismo.
Desde o séc. XIV se conhece o estabelecimento de comunidades no norte da Etiópia (na zona do Nilo Azul, principalmente Gundar y Tigra) que se atribui pertencer ao povo judeu do ponto de vista étnico e religioso, que mantêm textos judaicos sagrados (como o "Orit", a tradução da Bíblia ao idioma ge'ez) e que praticam uma parte importante e central dos preceitos da religião judaica pré-rabínica (como o respeito ao sábado, a circuncisão e as normas de purificação). Também para o ambiente cristão-etíope são estes identificados como judeus, para bem e para mal. Até o séc. XIV, sua principal ocupação era a agricultura, mas à medida que as comunidades não-cristãs na Etiópia foram colocadas a margem do sistema político-econômico, os judeus foram perdendo seu dereito à possessão da terra e se viram obrigadas a praticar atividades consideradas despreciáveis e impuras, como o trabalho com ferro, com barro e com tecido.
Os falashas tiveram o direito de auto-governo centralista, e instituíram uma dinastia real, mas ambas instituições deixaram de existir com a derrota para os cristãos-ortodoxos. Desde princípios do séc. XX até meados dos anos 30 aconteceu uma aproximação ao chamado judaísmo normativo, o qual incluía a adoção do corpo religioso que vai desde a Bíblia oral até os componentes do judaísmo rabínico. Yaacov Pitlovitch, que chegou a Etiópia en 1904, é considerado o "inventor" dos judeus etíopes e quem os introduziu na história judaica e transmitiu sua existência para o conhecimento do mundo judeu. Pitlovitch também transmitiu aos falashas conhecimento sobre rezas em hebraico, estabeleceu o acendimento de velas no sábado e o uso da estrela de David como símbolo. Nos anos 50 se inaugurou na Etiópia um seminário de professores do Departamento de Educação Religiosa da Agência Judaica, e muitos dos que se formaram emigraram ou pelo menos visitaram Israel. A meados dos anos 70 se estabeleceu na zona de Gundar uma série de colégios pertencentes à rede Ort, nos quais estudaram centenas de jovens.
Com a aproximação às correntes centrais do judaísmo, e durante o contato com emissários de outras comunidades judaicas do mundo, os falashas renunciaram quase por completo às características religiosas comuns aos seus vizinhos cristãos (como a abstinência, os sacrifícios rituais e a escravidão). Ao largo de toda sua história conhecida houve coincidências parciais, conversões em ambas direções e matrimônios mixtos com as comunidades cristãs em cujo seio viveram, e nunca houve uma separação ou limites sociais entre as comunidades religiosas na Etiópia. Alguns se definiam tanto judeus como cristiãos, ou como judeus que também foram batizados ao cristianismo (os "falashmura", como são conhecidos em Israel). O idioma ge'ez, o etíope antigo, era comum aos textos religiosos cristãos e judeus.
DEIXA MEU POVO SAIR
Em 1974 um grupo socialista-marxista encabeçado por Mengisto Haile Mariam tomou o poder na Etiópia, que passou a ter uma orientação pró-soviética. O novo líder eliminou o caráter religioso do Estado etíope e reafirmou direitos civis iguais a todos os cidadãos, sem distinção de religião ou origem étnica. Jovens falashas tiveram acesso pela primera vez à educação moderna e inclusive a cargos centrais no governo. Por outro lado, o tratamento para com os grupos religiosos e étnicos, que passaram a ser suspeitos de separatismo, não foi nada amistoso. Neste contexto, foram suspensas a atividade da rede de colégios Ort, as relações com Israel, com enviados da Agência Judaica e de outras organizações judaicas. A situação sócio-política e econômica piorou de modo significativo, assim como as condições de vida dos falashas, cuja existência como entidade etno-religiosa se viu amenazada. Em tais circunstâncias começaram a se fazer ouvir demandas dos próprios falashas e de organizações judaicas de Israel e do mundo em favor de sua emigração de Etiópia. Muitos jovens falashas foram mandados ao exército e a ligas agrárias. A revolução desmembrou em certa medida partes da sociedade e da família falasha tradicional.
Em 1984-85 as guerras civis, o recrutamento obrigatório de dezenas de milhares de jovens, a seca e a fome danificaram o qaudro social e a economia de toda a Etiópia, e centenas de milhares de etíopes começaram a fugir em direção ao Sudão, principalmente das zonas de combate entre as forças governamentais e as distintas forças guerrilheiras. Entre os falashas o translado ao Sudão começou em 1977, e até 1980 entre o meio milhão de refugiados etíopes no Sudão havia por volta de 3 mil falashas. Em 1982 este abandono dos falashas se converteu em emigração massiva, como resultado da seca e a intensificação dos combates na zona de Gundar. A decisão de abandonar Etiópia foi tomada a nível coletivo na aldeia, e comunidades inteiras armazenaram alimentos e planificaram a fuga. Até 1984 foram para o Sudão cerca de 10 mil falashas, e outros 4 mil morreram pelas epidemias e as adversidades do caminho, a caminhada de centenas de quilômetros a pé.
Hoje em dia os judeus etíopes sentem que a história heróica de sua chegada a Israel não foi incorporada satisfatoriamente ao histórico do heroísmo sionista-israelense, e que sua marginalidade na sociedade israelense se expressa também na memória coletiva geral.
A permanência nos acampamentos do Sudão produziu uma maior desintegração da comunidade, da família e da auto-identidade do indivíduo. Os mortos não puderam ser enterrados de acordo com a tradição e as mulheres jovens não podiam se casar de acordo com o costume, e estavam expostas a violação e abusos. Como consequência surgiram nos acampamentos novas formas de enlace, conhecidas como "casamento de Sudão", cujo status legal não era claro, nem de acordo com o costume falasha nem de acordo com a Halachá (lei judaica). Os refugiados no Sudão em sua maioria se viram obrigados a ocultar sua identidade falasha, e se apresentar como cristiãos ou até mesmo como muçulmanos. Famílias foram desmembradas e casais separados sem condições de comunicação entre seus membros. Homens e mulheres se casaram pela segunda vez, descobrindo logo que seu primero cônjuge estava vivo. Para os judeus etíopes em Israel esta época é paralela à época do Holocausto para o judaísmo normativo.
A Operação Moisés começou fins de novembro de 1984 e durante dois meses se prosseguiu em um alto grau de clandestinidade. A saída dos refugiados falashas do Sudão se realizou graças à pressão norte americana sobre o governo sudão, mas foi suspensa em janeiro de 1985 antes de terminar, aparentemente logo depois que notícias sobre a operação foram publicadas na imprensa israelense e mundial, contrariamente às condições do governo do Sudão. Uns 1.000 falashas ficaram no Sudão, os quais foram resgatados rapidamente pelos norte americanos e chegaram a Israel. Entre 1985 e 1989 outros 2 mil falashas, principalmente da faixa de Gundar, saíram legalmente de Etiópia pelo aeroporto de Adis Abeba.
Em novembro de 1989, depois que a situação econômica e de segurança piorou novamente, o governo da Etiópia decidiu reestabelecer as relações com Israel (na esperança de que este o ajude a receber apoio norte americano). Este passo precipitou o translado dos falashas de suas aldeias à capital Adis Abeba, onde deviam receber permissão de saída e serem transportados a Israel. As condições de moradia, alimentação e higiene nos subúrbios pobres de Adis Abeba eram lamentáveis. Muitos falashas se contagiaram com doenças infecciosas e viróticas. Finalmente, no momento em que as forças rebeldes chegavam à capital e o regime se desmoronava, em maio de 1991 foram trazídos a Israel, numa ponte aérea que durou por volta de 35 horas, mais de 14 mil falashas, que constituíam quase toda a comunidade.
Ficaram na Etiópia um número desconhecido de falashas cristãos (os falashmura), uma parte considerável dos quais são familiares de etíopes que se encontram em Israel. Os etíopes israelenses, por sua vez, administram uma luta de baixo perfil, e principalmente sobre a base individual da reunificação de famílias, para permitir a chegada a Israel dos falashmura.
NEGROS EM ISRAEL
Em Israel, os falashas conseguiram, com a ajuda do sistema político, os meios de comunicação e a burocracia dedicada à "absorção" de imigrantes, construir uma identidade, uma imagem e até um nome ("Beita Israel") que estão relacionados diretamente com o judaísmo e Israel, mas devido a cor escuro de sua pele não há escapatória a sua classificação social como "negros". No contexto etíope os falashas eram considerados de tez clara relativamente e catalogados como "vermelhos", a cor preferida na cultura etíope.
Na "hierarquia de cores" israelense, os etíopes se encontraram localizados no extremo considerado o mais inferior (acima deles estão os judeus orientais, os yemenitas, os hindús e inclusive os árabes). Assim, os etíopes são postos de lado como resultado da combinação entre três propriedades; a influência de cada uma delas em separado é capaz de determinar a localização em uma posição inferior e marginal na sociedade israelense, nem se fala nas três juntas:
· a cor da pele,
· a dúvida sobre a origem judaica (que constitue o denominador comum mais sólido na sociedade judaica em Israel)
· e o capital humano pobre.
De acordo a uma investigação que media distâncias sociais, realizada no norte do país, se encontrou que apenas 40% dos habitantes judeus de Israel declarou abertamente que não se oporia que seus filhos se casassem com um/a etíope. Pelos dados conhecidos de outras sociedades, esta porcentagem é ainda muito mais baixo quando se trata da situação concreta. Desta maneira não podemos prognosticar para as próximas generações uma quantidade de matrimônios mixtos suficientes capazes de apagar os limites primordiais em Israel.
1. Estadística da beneficência
ISRAELENSES DOAM 780 SHEKELS AO ANO
(http://www.cis.cl/ – 28.11.01)
Os israelenses doam a entidades e campanhas beneficentes mais de 2.1 bilhões de shekels ao ano, o que representa uma média de 780 shekels per capita (quase 200 dólares), segundo um estudo do Instituto Brandeman de Pesquisa. 90% da população adulta de Israel faz contribuições beneficentes a associações públicas, movimentos juvenis, hospitais, centros para mendigos, segundo revela a pesquisa realizada entre a população judia do país. O estudo revela que 27% dos israelenses contribui nas campanhas "porta em porta" sem sequer prestar atenção a quem está doando. Os homens são doam mais que as mulheres enquanto os primeiros doam uma média de 895 shekels ao ano per capita, as segundas doam 722 shekels. Por outro lado, os religiosos são mais generosos que os laicos. Segundo Ruth Brandeman, diretora do centro de pesquisa que efetuou a pesquisa, os laicos são os principais doadores da Associação de Luta contra o Câncer, enquanto que tradicionalistas e imigrantes são os que mais contribuem em campanhas vinculadas com o Tzahal (Exército de Israel). Os ortodoxos e religiosos são os que mais doam a mendigos e familiares que se encontram em má situação econômica. Todos os israelenses doam a mais de uma entidade segundo a seguinte distribuição:64% - deficientes e hospitais40% - albergues e centros para indigentes37% - soldados29% - instituções infantis27% - instrituções religiosas23% - amigos ou familiares17% - fundos de pesquisa5% - movimentos juvenis3% - associações políticas.
1 comment:
A Bíblia não diz nada que a Rainha de Sabá e Salomão tiveram um relacionamento afetivo ou sexual; a relação foi puramente diplomática de dois chefes de Estado.
Que a rainha deve ter filhos, não duvido, mas não foi de Salomão. Se ela se converteu à fé de Salomão, educando, posteriormente, seus filhos, não sei. O que o Velho Testamento diz é que ela ficou impressionada com a sabedoria de Salomão.
Infelizmente, quase não há registros arqueológicos sobre a tal rainha, seu reino e seus descendentes.
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